Ricardo Almeida


Você já foi acordado por algum tipo de barulho indesejável? Ou nem conseguiu dormir em razão daquele som alto na vizinhança? Imagine ainda aquela situação em que você resolve viajar de férias e se hospeda em um hotel que está realizando uma reforma. Nada bom, não é mesmo? Perturbações sonoras podem nos prejudicar bem mais que pensamos. A segurança e o direito de tranquilidade também decorrem de um meio ambiente equilibrado. 



Nosso cérebro reconhece as vibrações sonoras captadas pelos ouvidos e produz sensações que podem ser caracterizadas por fatores psicológicos de tolerância que variam de pessoa para pessoa. Os ruídos são sons indesejáveis derivados das atividades humanas do dia a dia. Os efeitos negativos relacionados incluem perda da audição, estresse, irritabilidade, hipertensão, perda do sono, fadiga, falta de concentração, baixa produtividade e deterioração da qualidade de vida.

A poluição sonora também afeta os animais de forma muito agressiva, deixando-os extremamente estressados, interferindo em seus instintos de caça e na sua reprodução. Os animais marinhos estão entre os mais prejudicados, tendo em vista a característica natural dos ambientes aquáticos em propagar o som com muita rapidez. Motores de barcos e navios, plataformas petrolíferas, entre outros fatores, afetam principalmente golfinhos e baleias, que têm como meio de comunicação os sonares. 



De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a poluição sonora hoje é considerada como o terceiro problema ambiental que afeta o maior número de pessoas no mundo, atrás apenas da poluição do ar e da água. Esse tipo de poluição é diferenciado porque não deixa resíduo ou acúmulos visíveis na terra, na água ou no ar, mas impacta no organismo dos seres vivos, causando graves danos. Por isso, a poluição sonora é considerada um problema de saúde pública mundial, uma vez que afeta a saúde física e mental da população a ela submetida. 



Um dos desafios para enfrentamento do problema é a dificuldade de avaliação desse poluente, seja por desconhecimento ou pela postura passiva, que leva a população a render-se à ideia de que é mais fácil acostumar ao barulho, deixando de lado um parâmetro importante: o tempo de exposição ao ruído. 

Especialistas apontam que uma das alternativas para combater o poluente sonoro refere-se ao uso das leis que disciplinam o assunto. No Brasil, há leis que regulamentam os critérios e os limites de emissão de ruídos, além de estabelecerem os melhores métodos para sua medição. As grandes cidades brasileiras, por exemplo, em sua maioria, possuem normas que regem as questões relacionadas à poluição sonora urbana, considerando cada segmento de atividade (comercial, residencial, industrial etc.) e, sobretudo, definindo quais as penalidades aplicáveis nos casos em que os níveis máximos permitidos não são respeitados. 

Diversas atividades produzem sons acima do permitido, ultrapassando os limites recomendados e interferindo na saúde humana. O trânsito é um dos grandes causadores de ruído nas cidades. Os aparelhos domésticos seguem na mesma linha e muitas vezes são usados simultaneamente, somando os indesejáveis decibéis (dB - unidade de medida usada mundialmente para apurar a intensidade do som). A intensidade aproximada nas situações cotidianas pode chegar aos seguintes índices: liquidificador (75 dB), secador de cabelo (90 dB), aspirador de pó (80 dB), música via fones de ouvido com o volume no máximo (100 dB), torneira gotejando (20 dB), restaurante movimentado (70 dB), caminhão pequeno acelerando (90 dB), buzina de automóvel (110 dB), turbina de avião (130 dB), show musical próximo às caixas de som (acima de 130 dB). 



A OMS alerta que o nível de ruído recomendável para a audição é de até 50 decibéis (dB) e, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o limite aceitável de ruído é diferente para cada ambiente. Em uma sala de aula, por exemplo, o nível sonoro para conforto acústico varia entre 40 dB e 50 dB; em um quarto de hotel o nível aceitável é de 35 dB a 45 dB e; em um escritório com computadores recomendam-se níveis entre 45 e 65 decibéis. 

Algumas dicas são importantes para manter a saúde em meio a esse turbulento cenário dos sons: não acelere o automóvel enquanto estiver parado no trânsito, regule frequentemente o motor do carro, evite usar a buzina, reduza o volume dos aparelhos domésticos (som, TV, celular), use tampões de ouvido em situações de exposição ao barulho, compre aparelhos com baixo índice de ruído. Agora, se o problema é estrutural, engenheiros e arquitetos podem fazer alterações para melhorar a acústica dos ambientes ou até mesmo detectar falhas estruturais que facilitem a propagação do som. No entanto, se o problema é ainda mais extremo e de desrespeito às leis, a recomendação é denunciar às autoridades competentes. 

De acordo com a plataforma Jusbrasil, as atividades sonoras serão consideradas poluidoras por presunção legal (reconhecimento legal de um determinado ato ou feito até que se prove o contrário), na medida em que se situarem fora dos padrões admitidos em lei, nas resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e nas normas técnicas recomendadas. 

E então, já que os tempos pedem mudanças de comportamento, que tal ficarmos mais atentos com a intensidade do som produzido no nosso ambiente? Afinal, o conhecimento nos ajuda a compreender que quando o som ultrapassa os limites do conforto acústico ele também rompe a barreira do respeito mútuo, tornando-se um ruído indesejável e prejudicial a nós mesmos e aos outros. 



Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Mulheres. O conteúdo é de total responsabilidade do autor. 


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