Ricardo Almeida
Em condições normais, o ar circula na atmosfera diluindo a poluição proveniente da indústria, circulação de veículos motorizados e tantas outras atividades urbanas. Essa circulação, além de ser importante para dispersão dos poluentes, é fundamental para renovar o ar que respiramos e também para proporcionar uma maior movimentação das massas e dos ventos.
Esse ciclo natural ocorre no meio ambiente a partir de duas situações básicas: a primeira se refere ao fato de que o ar quente, por ser menos denso, sempre sobe, enquanto o ar frio desce; a segunda situação é que a superfície terrestre, ao refletir os raios solares, aquece o ar que está mais próximo do solo. Assim, o ar que está mais em baixo esquenta e depois sobe para a atmosfera, levando consigo os poluentes produzidos nas cidades. Consequentemente, o ar frio que estava na parte mais alta da atmosfera desce, ficando mais próximo do solo e revigorando nossa respiração. Depois de aquecido (e poluído), o movimento das camadas de ar quente e frio é reiniciado, ou seja, o ar quente troca de lugar com o ar frio.
Dito isso, vamos entender como ocorre o fenômeno da inversão térmica, suas causas e consequências. Inicialmente, é importante relembrar que a atmosfera terrestre é constituída de cinco camadas: troposfera, estratosfera, mesosfera, termosfera e exosfera. A única camada em que os seres vivos podem respirar normalmente é a troposfera. Portanto, quanto mais distante da superfície terrestre, mais rarefeito é o ar, devido à baixa pressão e à redução da variedade de gases.
A troposfera reúne as condições climáticas ideais para a vida no planeta. É uma camada que se estende a uma altitude média de 12 km onde a temperatura chega a aproximados 60ºC negativos. A segunda camada é a estratosfera, que alcança cerca de 50 km do solo. Nela, a temperatura do ar aumenta com a altura, atingindo cerca de zero grau no seu limite superior. É nesta camada também que reside uma região com alta concentração de ozônio (popularmente conhecida como camada de ozônio), que ajuda a absorver a radiação ultravioleta do sol e protege a vida na Terra. A mesosfera alcança por volta de 80 km do solo. É uma camada muito fria, com temperaturas de até 90ºC negativos. Já a termosfera atinge uma distância de 500 km da superfície da Terra. As temperaturas no topo desta camada são altíssimas, chegando a 1.000ºC. É nessa camada que os meteoros se desintegram. A última camada da atmosfera é a exosfera, que possui temperaturas ainda mais elevadas e se estende a distâncias ainda maiores, confundindo-se com o espaço exterior.
É na troposfera que o ar costuma circular em movimentos verticais, onde o ar quente sobe e o ar frio desce. No entanto, há dias em que ocorre uma inversão desse processo, fenômeno conhecido como inversão térmica. Isso acontece principalmente durante o inverno, quando a umidade cai, fazendo com que seja criada uma camada de ar frio próximo ao solo e abaixo da primeira camada de ar quente. Assim, o ar frio tende a ficar preso nas proximidades da superfície (entre um e três quilômetros) e, sem que ocorra a circulação de ar, passa a reter todos os poluentes consigo. É quando o céu fica sem nuvens e vento, praticamente acinzentado.
Apesar de ser considerada um fenômeno natural, a inversão térmica torna-se um problema ambiental urbano por não permitir que os poluentes se dispersem na atmosfera. Os efeitos se agravam com o passar do tempo em função dos índices crescentes de emissão de gases poluidores. As consequências são preocupantes, haja vista que os problemas de saúde vêm se agravando cada vez mais, principalmente aqueles relacionados a doenças respiratórias, como pneumonia, bronquite e asma.
Conhecer mais sobre os fenômenos da natureza é uma forma de compreender a importância de debates e esforços para reduzir os impactos negativos no meio ambiente, a exemplo da poluição atmosférica. Discussões que alertam sobre a necessidade de mudança nas atividades produtivas, no uso dos recursos naturais e nas formas de consumo estão relacionadas a fenômenos como este da inversão térmica, uma vez que qualquer intervenção do homem no meio ambiente gera algum tipo de efeito nos movimentos cíclicos da natureza.
Por isso, buscar conhecimento e se manter informado sobre as questões ambientais nos ajuda a compreender o porquê dos debates e a escolher a melhor forma de participarmos dessas mudanças.
Ricardo Almeida
Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.