Ricardo Almeida
O vidro é um material resultante da fusão de matérias-primas, principalmente minerais. Não se tem ao certo uma comprovação histórica da origem dele, mas com a descoberta de objetos de vidro nas necrópoles egípcias, os historiadores pressupõem que surgiu há pelo menos 4 mil anos.
Ele é composto de materiais naturais, como areia, calcário, barrilha (carbonato de sódio), alumina (óxido de alumínio) e corantes ou descorantes. Depois de levada ao forno industrial e atingir temperaturas de até 1.600º C, essa mistura transforma-se em um material quase totalmente líquido, de cor âmbar (cor de mel) e segue para moldagem projetada.
Uma das grandes vantagens dele, além da beleza, é a capacidade de reciclagem. É um material 100% reciclável e, por ter uma estrutura amorfa (que não possui estrutura atômica definida), pode ser reutilizado infinitas vezes para a mesma finalidade, mantendo as características e a qualidade de um vidro novo.
Os vidros não são iguais, pois existem algumas diferenças em suas composições, assim como no propósito de uso. Veja alguns tipos:
Como nem tudo é perfeito, ocorre que os vidros não são biodegradáveis e isso faz com que ele permaneça por milhares de anos, quando descartado de forma incorreta no meio ambiente. Por outro lado, quando esse tipo de material é destinado corretamente para reciclagem, contribui significativamente para diminuição do volume de lixo nos aterros sanitários. Aproveitando sua capacidade de reaproveitamento (que é de 100%), a reciclagem de vidro apresenta vantagens importantes: para cada tonelada de vidro reciclado, economiza-se até 70% do que se gastaria para fabricar mais vidro, bem como 1,2 toneladas de matéria-prima. Portanto, não descarte o vidro em lixo comum!
De acordo com dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), o Brasil produz aproximadamente 1 milhão de toneladas de embalagens de vidro por ano. Deste total, 45% da matéria-prima usada foi reciclada na forma de cacos. Além desse ciclo de produção, os resíduos de vidro também podem ser utilizados na composição de asfalto e pavimentação de vias, na construção de sistemas de drenagem contra enchentes e na produção de espuma, fibra de vidro, bijuterias e até de tintas reflexivas (que refletem a luz do dia e da noite).
Para que você entenda melhor, a reciclagem de vidro é o processo industrial de derretimento de resíduos de vidro para fabricação de novos produtos, que na maior parte das vezes são embalagens. Vidros reciclados são misturados com matéria-prima nova e, dependendo da cor do vidro (transparente, âmbar ou verde), o percentual de reciclados pode chegar a 90%. Assim, ao se agregar os resíduos de vidro (cacos) na etapa de fusão do material, diminui-se a retirada de matéria-prima da natureza.
Para se ter uma ideia mais clara, o movimento Recicla Sampa explica que a reciclagem de apenas uma garrafa de vidro economiza energia suficiente para acender uma lâmpada de 100 watts por quatro horas ou para manter uma televisão ligada durante 20 minutos. Além disso, outros aspectos socioambientais merecem atenção nesta jornada cuidadosa com os vidros: a menor geração de resíduos sólidos urbanos, a redução de custos na coleta urbana, o aumento da vida útil dos aterros sanitários e a geração de renda para os profissionais recolhedores de recicláveis. De acordo com um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Brasil existem mais de 400 mil catadores de resíduos. Eles têm baixa escolaridade e a maioria é formada por homens, negros e jovens. A surpresa é que 58% contribuem para a Previdência, metade usufrui de esgoto em casa, quase um quinto tem computador e 4,5% estão abaixo da linha da miséria.
Vale ressaltar que o processo de reciclagem demanda um fluxo de trabalho organizado, caracterizado pela cooperação mútua. Nesse sentido, o valor do material reciclado tem uma ligação direta com a pureza do vidro e, por isso, a separação inicial é confiada à coleta seletiva. É justamente aqui que entra a colaboração da população, que deve destinar os vidros para coleta seletiva e não desfazer do vidro por meio da coleta convencional, e dos recolhedores e demais agentes que atuam no processo de coleta e separação dos resíduos sólidos, que, ao manejar corretamente essas etapas, desempenham papel importante para eficiência da reciclagem do vidro na indústria.
Os tipos de vidros mais comuns que compõem o trajeto da reciclagem são: garrafas de suco, refrigerantes, cervejas e outros tipos de bebidas; potes de alimentos; cacos de vidro; frascos de remédio; frascos de perfume; vidros planos e lisos; para-brisas; vidros de janela; pratos, tigelas e copos. Ao separar esses materiais é importante colocá-los em caixas de papelão, jornais ou sacos mais grossos para evitar que você mesmo e os recolhedores não se machuquem ao manuseá-los.
É sempre importante rever e reforçar um dos princípios da sustentabilidade ambiental: os “5 Erres”. Repensar nosso jeito de viver e agir no mundo; recusar produtos e serviços que não estejam comprometidos com o respeito ao meio ambiente; reduzir o volume de resíduos que geramos no nosso dia a dia; reutilizar tudo que for possível para aumentar a vida útil dos produtos e tornar as coisas menos descartáveis; e, ainda que reste algum material, recicle.
Depois de descobrir a importância da reciclagem de vidro, chegou a hora de você fazer a diferença e ser mais ativo nesse movimento. Sabemos que ainda existem muitos desafios a serem superados neste caminho, a exemplo de um processo de coleta organizado, pontual e que dê condições para que a população possa, de fato, participar dele. Mas, a verdade é que esse processo só vai se tornar efetivo a partir do posicionamento de cada cidadão, que faz sua parte (a exemplo dos 5 Erres) e busca encontrar a melhor maneira de exigir do poder público e da iniciativa privada o que a eles também compete fazer.
Nessa direção, e com base no trecho da música que diz: “quem não tem teto de vidro, que atire a primeira pedra”, fica mais fácil de entendermos porque não devemos interromper o ciclo da reciclagem dos vidros e observarmos com um pouco mais atenção como estamos fazendo o descarte desse tipo de material quando não mais nos servem. Talvez, isso também nos oportunize a refletir sobre o próximo “Erre” a ser assumido, o R de responsabilidade.
Ricardo Almeida
Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.