Resgata confiança e autoestima

Jornalista Isabel Minaré


Lidinha Borges, presidente da V.EN.C.ER com as voluntárias Helenice,
Andreia Pável e Beatriz Campos. Foto: Paulo Lúcio

A Associação dos Voluntários de Combate ao Câncer de Uberaba, mais conhecida como, V.EN.C.ER é uma Organização Não Governamental, de natureza assistencial, filantrópica e sem fins lucrativos. Ela atende pacientes em tratamento contra o câncer no Hospital Dr. Hélio Angotti e familiares.

As uberabenses Sandra Abadia de Andrade e Nilda Curi Barra queriam criar uma associação para atender doentes cancerosos carentes da cidade e região. Para colocar o plano em prática, elas fizeram contato com entidades similares de Barretos e São Paulo. Depois, firmaram parceria com a equipe do hospital Hélio Angotti, que cedeu o imóvel utilizado como sede. No dia 08 de dezembro de 1998 nasceu a V.EN.C.ER.

Teresinha Borges, a Lidinha, é presidente da ONG. Há treze anos, Lidinha ainda morava em Araxá (MG), sua cidade natal, quando veio à Uberaba para visitar amigos internados no Hélio Angotti, onde reparou no trabalho realizado pela instituição. Ficou interessada e se candidatou como voluntária. Fez o curso e foi efetivada e, a partir daquele momento, firmou compromisso. Independentemente dos afazeres externos, estava ali nos dias e nas horas combinadas para andar pelos leitos, sua verdadeira paixão. Anos e anos de dedicação levaram Lidinha a estar à frente da associação. Ela aceitou o desafio e abraçou a causa com todas as forças. Ofereceu o que tinha de melhor: boa vontade de servir e o amor ao próximo. Nada escapa aos seus olhos. É como se ela tivesse feito votos de casamento com a equipe. “Faço questão de estar junto com os voluntários, na alegria e na tristeza, e de estreitar laços com os funcionários do hospital e parceiros, pois são eles que impulsionam o nosso trabalho”, afirma. O segredo do sucesso é a empatia. “Às vezes, não temos possibilidade de atender os pedidos das pessoas. Aí eu penso: e se fosse comigo?”, reflete. Quando isso acontece, Lidinha e equipe se desdobram para dar soluções aos problemas. Inúmeras vezes, ela “desvestiu um travesseiro para forrar uma cama”. No outro dia, de um jeito ou de outro, encontrava o lençol certo para cobrir o colchão.

A V.EN.C.ER faz aproximadamente cinco mil atendimentos por mês distribuídos nos setores de alimentação, higiene, costura e beleza. Os 160 voluntários se dividem em turnos matutino e vespertino de três horas cada. “Gastamos 48 litros de leite, 16 sucos de caju concentrados e 3,5 kg e meio de café por dia”, aponta. Os alimentos são servidos nos lanches. Na sede, há uma fábrica de fraldas que produz cerca de 4,5 mil unidades por mês e supre as necessidades dos pacientes internados e em tratamento domiciliar. Outro setor é o de costura, que produz vestuário hospitalar como capote, campo cirúrgico, camisola, pijama, fronha, toalha e hamper. A beleza também tem espaço. A associação recolhe cabelo para um parceiro de São Paulo fazer perucas. Ela conta com dois bazares: Pechincha, feito uma vez por mês, e Mãos Solidárias, realizado no Dia das Mães e no Natal. Quando possível, faz doações de medicamentos para o hospital e, frequentemente, participa de eventos para angariar fundos. “Tudo que se refere aos pacientes diz respeito a nós”, resume a presidente. Os voluntários trabalham exaustivamente não só para entregar produtos como para resgatar cidadania e autoestima dos pacientes. Antes das mãos cheias, eles estão com os ouvidos atentos e os sorrisos abertos para acolher quem necessita. Para ser um voluntário, Lidinha destaca algumas características: boa vontade, compromisso, pontualidade, disponibilidade e política de boa vizinhança. As doações são monitoradas e organizadas. “Se uma pessoa nos encontrar no hospital e quiser doar dez reais, não aceitamos. Ela tem que vir aqui na sede para fazer a doação mediante recibo”, esclarece. O procedimento é necessário para dar conta de tantas atividades ao mesmo tempo. A comunidade pode ter acesso ao serviço realizado através da prestação de contas realizada em divulgações na imprensa e em uma assembleia anual.

Lidinha revela que, quando faltam itens para os atendimentos, ela mesma vai até as empresas para conversar com os diretores. “Eu peço. Não estou pedindo nada pra mim, estou pedindo para os outros. Tem hora acho que tenho que andar de ré. O povo não pode nem ver minha cara mais! Ele deve pensar: - Lá vem ela de novo. Mas não me nega nada”, comemora, aos risos. Todos podem contribuir com a causa solidária. “Não custa nada abrir mão do conforto do seu lar, da companhia da sua família e dos seus amigos para servir o próximo. Ser solidário é muito bom! Lucro mais do que as pessoas que estou ajudando porque é uma realização feita de coração. Carrego a certeza do dever cumprido”, finaliza.


Lidinha Borges, presidente da V.EN.C.ER. Foto: Arthur Matos