Jornalista Isabel Minaré
Fotos: divulgação
“A palavra convence, mas o exemplo arrasta”. 2015, final de domingo, TV ligada na Globo. A professora aposentada Cléia Gobbo assistia o Domingão do Faustão quando se deparou com uma reportagem sobre a americana Lilian Weber, de 100 anos, que costurava um vestido por dia para enviar à África. A história ficou na cabeça dela. “E se eu também costurasse para doar?”, pensou. A dúvida se transformou num propósito de vida. Assim, em 2017, através do exemplo, nasceu o Instituto Costurando com Amor. Cléia convidou colegas do magistério para formarem um grupo. Cada uma ajudou como pode. Uma doou máquina de costura, outra colaborou com tecidos, outros com aviamentos e muitos com trabalho. Uma professora de costura se juntou ao time. O início foi na garagem da casa da Cléia, com a confecção de vestidos para serem levados ao continente africano pela organização humanitária Fraternidade Sem Fronteiras. Outra questão surgiu: - Na África não tem meninos? Começaram, então, a produção de roupas masculinas. A expansão foi além do sexo. As doações passaram a ser feitas para quem precisasse, independentemente da localização.
O voluntariado cresceu e a garagem ficou pequena. Foi preciso mudar e não ocupar um cômodo só e sim uma residência inteira. Atualmente, o projeto social está localizado na rua Pires de Campos, nº 375, no bairro Estados Unidos. É uma casa grande, antiga e charmosa, com espaços para estoque, corte, costura, sala de aula e até uma loja. Sim, além de roupas para doar, a associação faz peças para vender, como panos de prato, jogos americanos, toalhas de mesa, tapetes e sousplats. As vendas são importantíssimas para o custeio de aluguel, energia elétrica, água, internet, manutenção das máquinas, entre outras despesas que surgem a todo tempo.
Atualmente, a entidade conta com 140 voluntários. Tem quem trabalhe na sede e quem prefira costurar de casa. Há aqueles que adoram costurar e aqueles que não gostam nem de tocar na agulha. Isso é um problema? “Não, pois serviço é o que não falta aqui”, afirma a presidente Cléia. Cláudia Raissa é uma dessas pessoas que não tem afinidade nenhuma com as linhas. “Me sentia inútil em casa com tempo e disposição de sobra”, conta. Ela visitou a organização, entendeu que poderia contribuir de outras formas e decidiu se tornar integrante. Necessário mesmo é trabalhar com carinho, dedicação e afeto. Por isso, o nome Costurando com Amor. O instituto disponibiliza aulas gratuitas de corte, costura e bordados. É aprender, treinar e ‘colocar a mão na massa’, quer dizer, nos tecidos. Um aprendizado lindo e que muitas vezes não é colocado em prática em benefício do próximo. Muita gente aprende, no entanto abandona o projeto para fazer do conhecimento um novo ofício remunerado. É triste e acontece frequentemente.
A abrangência da ação voluntária vai muito além do vestuário. A turma monta kits (composto de roupas e brinquedos) e doa enxoval. O maior passo foi quando entendeu que poderia atuar além dos próprios muros e se unir a outras entidades filantrópicas. “Teve uma época que o Instituto Maria Modesto Cravo precisava de roupas de cama. A equipe nos doou todo o material e nós entramos com a mão de obra”, explica a voluntária Sideny Ferraz. “Nossa função é doar amor”, resume.
A associação está atenta às catástrofes e necessidades do Brasil e do mundo. No final do ano passado, algumas regiões da Bahia foram castigadas com fortes enchentes. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas e desalojadas. O grupo direcionou todos os esforços e doou 2500 peças para lá. Agora, é o Sul que sofre com chuvas e que vai receber cuidados. “É um chamado que entra no ouvido e chega no coração”, relata Cléia. As doações são levadas aos seus destinos com a ajuda de parcerias feitas através de contatos, ligações e muitos, muitos pedidos. Pedir faz parte da ação voluntária. Não se pede para si, pede para o outro. E assim, de pedido em pedido, mão e mão, carinho em carinho, milhares de pessoas são assistidas. “Mãos que oferecem amor nunca ficam vazias”, define Sideny.
O Costurando com Amor desconhece a palavra limites e na atualidade está presente em 27 cidades do Brasil. Não como uma presença física, com filiais, entretanto como referência em ideal. As pessoas viram como o projeto é importante e o praticam nas suas próprias comunidades. E logo a entidade, que foi criada através do exemplo da Lílian, hoje é exemplo para muitas outras. Da mesma forma que costurar é simplesmente unir dois pontos com uma linha, o Costurando une o mundo em prol da solidariedade.
Podemos sair de casa com fome, contudo nunca sem roupas. Roupa é abrigo, proteção, cultura, sentimento. Sempre haverá a necessidade de se vestir e, para tanto, de costurar. E sempre existirá alguém para ajudar. Nessa balança, os pesos são desiguais. Desta forma, as portas da entidade estarão sempre abertas para a entrega de maquinários, aviamentos, tempo, conhecimento, esforço, ternura, zelo e muito, muito amor!
Alegria em mudar o mundo
Bonecas também são vendidas e doadas
Costurando com alma, mente e coração