Vieram pra ficar?
Jornalista Bia Adriano
As lives apareceram como uma forma diferente de amenizar todo o sofrimento causado pela pandemia. De uma hora para outra, o “novo normal” chegou e transformou todas as nossas convicções. Os encontros com familiares e amigos, simplesmente, desapareceram. A opção foi mudar o jeito de divertir mesmo em casa. E teve muita gente que curtiu a novidade, assistiu, participou e criou mais uma maneira de interagir com o mundo.
Vantagens da novidade
Para Fernanda Viola, apresentadora, atriz e cantora, as lives não faltaram na sua agenda de compromissos. Participou da primeira através de uma produtora parceira, de Araxá, que realizou a live da dupla sertaneja Emílio e Eduardo em que ela fez a apresentação. Além da live da dupla sertaneja, também participou da apresentação online de Peixe Piloto, Lucas Lucco, Ton Rock, Eduardo Costa e Israel & Rodolffo. A apresentadora ressalta que existem lives de curta e longa duração, sendo que algumas chegam a ser de até 12 horas. As lives profissionais exigem toda uma preparação e técnicos para serem realizadas sem grandes imprevistos. “O grande pulo do gato do ao vivo é saber improvisar. O bacana da internet é que a pessoa assiste o que quiser, diferente de um canal da TV, que você assiste à programação do canal. Nós fazemos nossa própria programação. O Instagram tem a característica da informalidade, não precisa de grande produção e pode ser feita em casa”, explica.
Dani Salci, criadora de conteúdo digital, é uma daquelas pessoas que sabe se adaptar ao ambiente. Super agitada e trabalhadora, aproveita as chances e quando a ferramenta surgiu, não foi diferente. Já apresentou live de vários músicos como Tito Rios, Mané Galinha, Peixinho e Nino Piantamar. “Lives levam entretenimento e música em tempos tão difíceis e ainda ajudam nas doações para várias instituições de caridade”, explica a influencer. A experiência com programa de TV confirmou a naturalidade diante das câmeras e fazer live só trouxe mais dinamismo para a carreira dela. “Confesso que ao vivo é muito mais legal. Acredito que as lives vieram para ficar, uma forma de estarmos conectados com artistas que gostamos e não podemos estar presencialmente”, finaliza Daniela.
Algumas desvantagens
Girla Nascimento, DJ, que também atua como consultora de formaturas, explica que fez algumas lives em casa; também foi convidada para participar de outras três com colegas e se apresentou no Drive In Projeto. “Fiquei muito feliz com o resultado que obtive em casa, muitas pessoas acompanharam, fiquei lisonjeada com o convite dos meus amigos DJs para os trabalhos deles online e em todos os espaços, fiz um set de uma hora para a Transcendente, que está no Youtube e em um canal de DJs do Rio Grande do Sul. Na grande maioria, minha participação foi sem remuneração, por que estamos todos no mesmo barco. Já estou confirmada em mais dois eventos fora de Uberaba, ambos online.” Como nem tudo são flores, a ausência de público presencial acaba impactando quem está acostumado com grandes aglomerações “Você não vê o público virtual e essa é a grande diferença, a parte ruim do processo, muita gente vai assistir o que foi feito só depois, principalmente, pela grande oferta de lives. Os artistas com mais condições financeiras fazem produções e propagandas e acabam ofuscando um pouco os pequenos e médios, mas temos que batalhar. O público virtual não sai de casa para te ver, ele passa o dedo e já tem outra coisa acontecendo, então o valor que ele dá ao seu trabalho online é menor do que de sair de casa, comprar um convite para te assistir”, desabafa a DJ. “Nós artistas, produtores de eventos, trabalhadores do ramo aos milhares, estamos esquecidos pelo poder público, é como se não existíssemos e isso sim é uma pena”, conclui Girla.
Elas vão sobreviver
Andrea Marques Lima, especialista em desenvolvimento empresarial e proprietária da empresa Espaço Mútua, realizou aproximadamente 60 lives entre abril e maio e ressalta: “Meu propósito foi levar para as pessoas conteúdos que acrescentassem algo na verdade de cada uma”. Nesse projeto, ela teve convidados de peso como o diretor do Sebrae Minas, Marden Magalhães; Raul Candeloro; Dagoberto Hajjar e tantos outros especialistas. “A experiência de fazer live foi excelente, aprendi muitas coisas e foi muito gratificante. Assisto lives que agregam conteúdo inovador e que vão acrescentar informações para minha vida pessoal e profissional. Gosto de temas que não são da minha área, para aprender sempre o que as pessoas estão fazendo de diferente”, diz Lima. Para a empresária, as lives vão sobreviver, como também os cursos e palestras online. “Essa modalidade de comunicação permite que nossos convidados troquem informações e comecem a agir em busca dos seus sonhos. Outro diferencial foi tirar as pessoas da zona de conforto que se encontravam. Hoje as pessoas precisam pesquisar mais do que nunca, buscar o que de inovador está acontecendo no setor que atuam. São os novos tempos, agregando sempre mais e mais informações. O mundo não permite mais que as pessoas fiquem paradas no tempo”, conclui Andrea.
Ação solidária através das lives
Com mais de 20 mil seguidores no Instagram, a cantora Leslye de Paula é pura simpatia e acumula talentos. Além de esposa, mãe e de ter uma linda voz, também cria os próprios figurinos dos shows e domina novas tecnologias. “Tinha feito live sem pretensão. No começo da pandemia fiz uma do meu celular no quarto, após um show. Eu estava com insônia, fiz pipoca e entrei para conversar com as pessoas. Sei que curtiram bastante só que agora o momento pede mais profissionalismo”, relata a cantora. Em maio ,participou da Live do Bem, organizada por Valéria Rodrigues e Túlio Micheli, do Boca no Trombone. Fez tanto sucesso, que arrecadou sete toneladas de alimentos para entidades da cidade. Participou também do evento realizado pela Fundação Cultural de Uberaba no Projeto ‘Cultura Solidária Uberaba’, que apoia os artistas em geral. Adorou a experiência. “Foi muito gostoso, dá impressão que você está fazendo um show. Você interage com as câmeras e as pessoas que estão captando imagem. A experiência é de reviver o palco. É um prazer ver que as pessoas ficam agradecidas. É uma oportunidade de alguns fãs acompanharem seu trabalho por estar longe ou não terem condições financeiras de estar nos lugares que você toca. Não são todos os shows que são gratuitos e a live acaba sendo”, comenta Leslye.
E quanto à questão: as lives vieram para ficar ou são nuvens passageiras?
O movimento da transmissão ao vivo é antigo, desde a explosão da televisão nos anos 50, com icônicas transmissões de shows de rock, programas de auditório, entre outros, arrefeceu ao longo do tempo e reativou de forma estrondosa durante a pandemia, em uma nova roupagem e atraente vertente de espontaneidades, onde o poder do engajamento com o público chama a atenção também de profissionais e empresas de áreas diversas como um canal de comunicação extremamente importante para atrair seguidores, fortalecer marcas, divulgar produtos e serviços. Pós-pandemia, provavelmente haverá uma acomodação de grande volume, principalmente no que se refere a grandes shows e eventos nos quais são inerentes o contato físico e a aglomeração. Contudo, no que tange ao grande objetivo de “se conectar”, certamente as lives continuarão marcadamente presentes.