Por Vera Lucia Dias
Todo livro tem uma história e eu gostaria de compartilhar com os leitores a motivação para organizar um livro que tem como título o mesmo do presente artigo, esperando que ele possa de alguma forma contribuir com pais, mães e educadores que, porventura, tenham em mãos a REVISTA MULHERES.
Atuando nos últimos 50 anos na área da educação, como professora e diretora escolar e, parte deles também na área da Saúde Mental como psicóloga clínica, observei um fenômeno que considero preocupante envolvendo a relação Família /Escola /Serviços de Saúde.
Dos anos 70, quando iniciei minha carreira, até os dias hoje, assisti uma mudança de costumes, regras e limites tanto na Sociedade em geral como no funcionamento familiar. Naquela década tanto a Família como a Escola davam conta de suas respectivas tarefas com facilidade.
Nos anos 80, os pais começaram a procurar a Escola com justificativas neurológicas para os problemas de comportamento dos filhos. Era o tempo da chegada, por aqui, dos eletroencefalogramas, “focos” no cérebro e do “remédio controlado” numa uma tentativa de encontrar explicações na dimensão corporal para as dificuldades de aprendizagem e de comportamento.
O tempo foi passando e, nos anos 90, foi a Escola que começou a chamar os pais para conversar e isso bastava para resolver os problemas enquanto que, ao final desta década e início dos anos 2000, era comum ouvirmos do responsável, que já nem sempre era o pai ou mãe, uma clássica frase: “Eu não dou conta desse menino”!... E daí para a frente, vivi o suficiente para receber responsáveis dizendo que estavam na escola “escondidos” do filho e que não era para contar para ele, demonstrando para nossa surpresa, que sentia medo de suas reações.
Hoje, ouço relatos, não sem preocupação, sobre crianças ainda na Educação Infantil chegando sonolentas à creche ou escolinha porque ficaram na internet até tarde da noite, demonstrando viverem a falta de uma rotina adequada à sua faixa etária.
Penso que para muitos, estas reflexões podem remeter àquele saudosismo expresso no “meu tempo era assim...”, mas nossa intenção não é a de nos agarramos ao passado, mas sim oferecer ajuda aos pais que estejam se sentindo confusos e desorientados numa cultura que cancela e exclui, que vive relações líquidas e descartáveis, num tempo em que se vive conectado com o mundo e desconectado dos que vivem sob o mesmo teto.
Como educar filhos num mundo mudado e em permanente mudança? Qual é a Ética válida para a contemporaneidade? Por que a família hoje precisa de recorrer a tantos e diferentes profissionais para ajudá-la na sua missão? Por que em meio a tantas especialidades e titularidades, há tão poucos espaços oferecidos aos pais para refletirem/aprenderem sobre sua mais importante missão?
É nessa lacuna e tentando responder a estas perguntas que, ao longo de muitos anos, temos desenvolvido o projeto denominado ESCOLA DE PAIS e que muito colabora com quem dele participa. É com o mesmo espírito dessa iniciativa que, organizamos o livro FILHOS NÃO VÊM COM MANUAIS, MAS PAIS PODEM SER ORIENTADOS em parceria com a competente e reconhecida educadora, revisora e doutoranda Mariângela Castejon.
Falando um pouco sobre o seu conteúdo, convém esclarecer que ele não é como um manual técnico, semelhante àquele que vem junto com eletrodomésticos ou veículos, mas sim, como uma grande roda de conversa envolvendo cinquenta e três profissionais falando sobre a importância de sua área de atuação, dos principais problemas que são objetos de sua intervenção, dicas de prevenção e indicações de artigos, livros, sites e filmes para quem desejar se aprofundar e conhecer mais.
FILHOS NÃO VÊM COM MANUAIS, não é um livro para ser lido “de cabo a rabo” e sim, para ser consultado de acordo com a necessidade de cada um. Apesar de escrito por estudiosos e pesquisadores, os temas não são apresentados como nos artigos científicos, mas de maneira simples e clara para que possam ser compreendidos independentemente do nível de escolaridade de quem os lê.
Com suas 320 páginas, está organizado em quatro grandes capítulos. O primeiro deles aborda as configurações familiares atuais, seus desafios e possibilidades, bem como questões que atravessam o seu cotidiano. Foi escrito por psicólogos, operadores do Direito, assistentes sociais, mães, pais e avós. Nele encontramos reflexões sobre a saúde emocional da família, a sobrecarga das mulheres chefes de família, a importância da figura masculina, o papel das avós, filhos homossexuais e famílias homoafetivas, luto, suicídio e situações que envolvem questões legais como adoção, divórcio e seus desdobramentos e, como não poderia deixar de ser, Estatuto da Criança e do Adolescente e outros.
O segundo capítulo, de significativa relevância, aborda a formação com base nos chamados Quatro Pilares da Educação: aprender a aprender, a fazer com competência, a ser e a conviver com competência. Foi escrito também por psicólogos (estamos em todas!...), religiosos, filósofos e profissionais de referência em determinadas frentes de batalha como Amor Exigente, Disciplina Positiva, a busca do equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional, o uso adequado da Tecnologia Digital, a importância do Brinquedo e do Brincar, Filosofia e Valores Humanos, Psicologia Escolar e Orientação de Carreira. Conta ainda com contribuições de artistas, músicos e contadores de história. Integram as discussões do terceiro capítulo, Formação Integral como facilitadora da Educação Acadêmica, não só os diferentes aspectos da Educação (ambiental, financeira, espiritual, carreira, colaborativa, sexual e também para a morte e a finitude), mas também a visão de especialistas em Educação Infantil, Desenvolvimento Cognitivo, Construção da Leitura e Escrita, Redação, Matemática e demais Ciências Exatas, Geografia, História, Educação Física, a lida com filhos que são pessoas vivendo com deficiência (PCD), o papel da educação inclusiva e o trabalho da APAE em Uberaba. Trata-se de um verdadeiro diálogo aproximativo entre a dimensão pedagógica e a escola ideal – humana, competente, inclusiva, viva, significativa – um sonho possível de ser realizado, abrilhantado pela experiência de seus autores.
No quarto e último capítulo, priorizamos o aspecto da Saúde e do Desenvolvimento da Criança e do Adolescente e foi escrito por expoentes nas suas áreas de atuação, falando sobre Saúde Mental, Psicoterapia, Cuidados Pediátricos, Câncer Infantil, Neuropediatria e Neuropsicopedagogia, Endocrinologia e Metabologia, Nutrição e Saúde Integral, Saúde Bucal, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Prevenção de Acidentes e Primeiros Socorros Na Infância e Adolescência, inter-relacionando aspectos biológicos, mentais e socioemocionais.
Como pode ser visto por quem chegou até esse ponto do nosso artigo, procuramos incluir em nosso “manual” todas as áreas que, na contemporaneidade, dão suporte às experiências, conflitos e desafios da família e da escola em busca de equilíbrio, crescimento e desenvolvimento, tanto dos pais e educadores quanto dos filhos e alunos. Lembrando, mais uma vez, que nossos colaboradores foram convidados a participar por sua larga experiência e estudos constantes.
Imaginamos que, quanto mais jovens forem seus filhos, mais você se beneficiará de sua leitura, mas se estes já estão criados, nosso livro poderá ser um presente interessante para pessoas de seu relacionamento, que estejam responsáveis pela importante missão de educar filhos, netos, sobrinhos, enteados e alunos.