Evacira Coraspe
Fotos: Paulo Lúcio
Meditação está entre as mais frequentes buscas na internet durante a Pandemia do Coronavírus. Para compreender essa explosão de acessos é preciso entender o que é meditação. A coluna Cultura e Arte da Revista Mulheres entrevistou a professora de Hatha Yoga e Meditação (Samtha Yoga) e Terapeuta Holística Thaisa Acciari Sampaio. A mestra esclarece que as pessoas ficaram com medo, isoladas, vivenciando perdas de várias naturezas e sem ter como usar as ferramentas de fuga que muitas vezes usavam. O isolamento social fez com que as pessoas olhassem mais para si mesmas e buscassem formas de se manterem sãs e equilibradas. E sendo a meditação um processo que pode ser feito com um mínimo de orientação, milhares de pessoas no mundo aderiram a essa prática tão transformadora. “O objetivo máximo do Yoga é a ferramenta mais eficaz para se atingir Samadhi, o êxtase do estado de super consciência. É o caminho da Libertação!”
Revista Mulheres – Como você interpreta a meditação?
Thaisa Sampaio – Vejo a meditação como um processo de adestramento: “ensinamos” nossa mente a trabalhar a nosso favor, ajustando nosso foco em um único objeto, acalmando a nossa bagunça mental e controlando suas oscilações. E como todo adestramento, a meditação só é bem-sucedida com a prática constante e disciplinada. Com a meditação, atingimos um nível de não-reatividade cada vez maior frente às dificuldades e obstáculos, nos mantendo mais serenos e impedindo, assim, desgastes energéticos e embates desnecessários.
RM – Onde surgiu a meditação
TS – Existem muitas teorias que associam a “descoberta” da Meditação à China e à Índia, em tempos anteriores a Cristo. Mas alguns autores afirmam que o homem pré-histórico já experimentava momentos meditativos durante seu isolamento nas cavernas, no controle do medo, na prática sexual e em diversas outras situações.
RM – Quais são os tipos de meditação?
TS – Existem muitos. Eu acabei me dedicando às técnicas usadas no Yoga. Usamos basicamente a Concentrada (na chama da vela, no ritmo da respiração, em sons, em mantras), a Conscienciosa (plena atenção), a Reflexiva, a Devocional (intuitiva) e a Criativa (uso de visualizações). A questão não é a técnica, que é apenas instrumento. Mas é importante conhecer um pouco de cada uma para descobrir a que mais se encaixa em seu perfil. Nas meditações que conduzo, faço questão de variar as técnicas, para que o aluno não se torne totalmente condicionado a uma, sem conhecer as demais, nem tampouco, condicionado a mim, para que possa continuar sozinho; afinal, sou apenas uma facilitadora.
RM – Qual a postura ideal para meditar?
TS – Sentado, deitado, caminhando, molhando as plantas, tomando banho... Meditamos sempre que levamos nosso foco a um objeto e dedicamos atenção plena àquilo. Quando colocamos presença e intenção, sem alimentar o diálogo com nossos pensamentos, deixando que eles venham e se vão. Mas sugiro que você experimente meditar sentado no chão, com as pernas cruzadas, a coluna ereta e os olhos fechados. Vá acostumando seu corpo e sua mente aos poucos, aumentando o tempo de meditação e incorporando esse hábito diário à sua vida.
Thaisa Sampaio
RM – Existe um melhor horário para meditar?
TS – Meditar é uma prática individual e, portanto, essa será uma escolha particular. Minha sugestão é que sempre iniciemos e fechemos o dia com a meditação: uma forma de se “blindar” e de se “limpar” dos eventos do dia; mesmo que sejam 5 minutos iniciais, aumentando gradualmente o tempo aplicado. Também vejo a meditação como uma grande aliada em qualquer momento que você se sentir ansioso, angustiado, triste, com medo... A meditação não apenas acalma a mente, mas produz modificações físicas e energéticas favoráveis, que ajudam a mudar esse estado e a transmutar essas energias nocivas, elevando sua frequência vibratória.
RM – A meditação deve ser praticada com olhos abertos ou fechados? Por quantos minutos?
TS – Existem práticas onde se mantêm os olhos abertos, fixos na chama de uma vela, por exemplo. Mas na maioria, fechamos os olhos, reduzindo as distrações e os impactos que os órgãos dos sentidos têm sobre nossa concentração.
Não existe uma métrica que determine o tempo da meditação. Como processo individual, essa também é uma decisão particular. O ideal é que se medite o tempo necessário para reduzir a agitação da mente, diminuir o ritmo do corpo, equilibrar as energias. Você só vai descobrir isso, meditando. E, acredite: cada dia será diferente do outro.
RM – A pessoa realmente consegue ficar imóvel, sem pensar em nada?
TS – O meditante pode se mover sempre que necessário. Formigamentos, dores, coceiras, tudo pode acontecer. Estamos vivos! Mas o ideal é que aprendamos a controlar nosso fluxo físico, pois toda vez que nos movimentamos, regredimos no caminho da meditação, uma vez que agitamos nossa mente e levamos nossa atenção ao corpo. Por isso, a prática de Yoga é tão importante: ajusta nosso corpo para que ele não seja um empecilho no processo meditativo, trabalhando a estabilidade e o conforto, a flexibilidade e a força.
Quanto aos pensamentos, eles não deixam de existir! Continuamos a pensar, mas paramos de nos conectar e “segurar” nossa atenção neles enquanto meditamos. Eles vêm e vão. O que acontece, a partir disso, é que o espaço entre um pensamento e outro vai ficando cada vez maior e a mente passa a receber menos “bombardeio”.
RM – Os efeitos da prática na modalidade online são satisfatórios?
TS – A modalidade online atende e muito nesse caso. As pessoas começaram a aceitar novas formas de se comunicar, de aprender. Eu mesma comecei a trabalhar as práticas online, assim que entramos em quarentena e senti que seria produtivo instituir aulas à parte de Meditação, como um bônus, duas vezes na semana, fora do momento da prática. Foi uma forma de oferecer orientação e companhia para que dessem o pontapé inicial em casa, mantivessem a higiene mental e evoluíssem no caminho da reforma íntima. Cada aula, uma técnica. E todas as aulas são gravadas e enviadas ao grupo, a “sangha”, que significa “comunidade espiritual”. Assim, ninguém tem desculpa para não meditar ao menos 2 vezes na semana.
RM – Qual a relação da meditação com a respiração?
TS – TODA! A respiração para os yoguis é uma das mais importantes etapas que trilhamos para meditar com sucesso! Respirar com consciência, pausa e profundidade reduz a agitação física, acalma os processos mentais e repõe a energia vital (que chamamos de Prana). Concentrar fica mais simples quando respiramos de verdade.
Yoga para atingir a super consciência
Novo conceito na moda traz inteligência e funcionalidade
Paula Virgínia Salge Melo Mio, Designer de Moda, Estilista e Consultora de Estilo e Imagem, que atua nesse mercado profissional há mais de 40 anos, confirma que houve mudança no consumo da moda feminina nesses últimos dois anos, ou seja, na Pandemia do novo Coronavírus.
“A Pandemia do Covid-19 impactou radicalmente o consumo da moda feminina no mundo todo. Uma mudança brusca na rotina estabelece uma reinvenção de trabalho, de vida e de valores. Alguns produtos se tornaram imprescindíveis e de primeira necessidade, enquanto outros perderam sua prioridade. O DressCode das empresas foi deixado em segundo plano, dando lugar ao conforto e praticidade. Em minha opinião, mesmo que de forma inconsciente, a busca é pelo conforto psicológico e emocional mais que pelo ato de vestir. Mesmo assim, sem abrir mão do cuidado e vaidade suficientes para aparecer em um trabalho ou reunião por vídeo, que agora fazem parte do nosso dia”, diz a estilista.
As mudanças de comportamentos que definem a moda nesse período são observadas por Paula Salge como nítida transição da moda, pois a necessidade de consumo diminuiu radicalmente. O momento, para ela, acelerou um processo que já está em curso há algum tempo, ou seja, um novo olhar e um novo estilo passam a fazer parte de algumas mudanças. A tendência se volta para o consumo de roupas mais casuais, que atendam à necessidade do dia a dia e que comuniquem algo de muito pessoal. As pessoas estão mais voltadas ao conhecimento próprio, mais que rótulos preestabelecidos e gerados pelo modismo; acrescentando que, mesmo sentindo falta da rotina de trabalho, de festas, barzinhos e encontros com os amigos, em todas as gerações, aparece clara a priorização do conforto, sem perder a elegância. “As grandes passarelas perderam um pouco o foco, as pessoas passaram a pautar seus estilos com base no que admiram, mas que caiba no seu dia a dia e em suas necessidades. O distanciamento social nos aproximou de uma infinidade de ideias e possibilidades de informação, mas nunca estivemos tão próximos do nosso autoconhecimento”, narra.
Paula Virgínia Salge Melo Mio
Sem festa, a casa virou um templo
A consultora de estilo observa que a situação que estamos vivendo impactou muito em todos os segmentos e comportamento, inclusive no que diz respeito ao desejo de compra. “Sinto que as mulheres passaram a consumir de forma diferente. Se antes o que movia nosso desejo era um motivo para a compra, uma festa, uma reunião, uma viagem, um barzinho; hoje, com a imposição do isolamento social, o foco de consumo passou a ser outro. Por exemplo: os cuidados com o corpo, com a saúde física e mental passam a ser prioridade, através de leituras, mentorias, cursos específicos e tratamentos holísticos. Com o cuidado e também o conforto da casa, que passou a ser o nosso ‘templo’. Acredito que nesse momento estamos todos voltados a consumir o que nos dá mais prazer e conforto emocional. Então, o mercado da moda está sendo o oposto de outros mercados que cresceram com a pandemia.”
(Parceria publicitária: Rádio Mulher)
Formas, cores e praticidade
As cores e os modelos se diferenciam? “Vamos dizer: claro que a nossa tendência é se encantar pelo novo, com as cores e os pontos fortes ditados a cada estação. Mas essa pandemia trouxe uma atmosfera densa e triste para os nossos dias. Existe uma necessidade enorme de busca pela paz e conforto interior. Os tons neutros e os coloridos, mesmo que de forma inconsciente, são as escolhas do momento. Sem a preocupação gerada pelo modismo. São escolhas visíveis. As formas estão mais leves e menos rígidas. O conforto está reinando. A imposição de proteção e a necessidade de praticidade fazem com que muitos elementos se tornem relevantes como itens de estilo na estética utilitária. As roupas se tornam mais inteligentes e funcionais na busca de um cotidiano descomplicado. O minimalismo é tendência forte, trabalhado sem perder a elegância. Em alta, o estilo homewear, que garante o conforto do vestir para estar em casa, com um toque de criatividade e elegância. O trabalho home office trouxe um novo hábito, o out of keyboards, ou seja, estar arrumado da cintura para cima, uma vez que somos vistos dessa maneira, de frente a um computador. O objetivo é conseguir praticidade e conforto para reuniões, palestras e trabalhos on-line. As gerações mais novas estão cada vez mais preocupadas com o consumo consciente.
“Algo que me chamou bastante atenção dentro do mercado da moda foi uma mudança de comportamento em relação aos acontecimentos e ao sofrimento que sacode o mundo. Um impacto que causou uma mudança radical no desejo de consumo. O luxo e ostentação parecem não caber mais no contexto de forma geral. E quando digo luxo e ostentação, não quero dizer poder aquisitivo, quero dizer comportamento e ação.”
Paula em momento de criação
Arte ou negócio sofreu retração e pediu coragem
“O mercado retraiu bruscamente em todos os segmentos que envolvem essa área. O mercado da moda passou a não ser prioridade, uma vez que não temos festas, eventos e reuniões, o que impulsiona o consumo desse segmento. Um dos mercados que mais sofreu com a pandemia; então, nós profissionais da moda estamos enfrentando um período de grande mudança”, afirma Paula.
“Tanto as marcas maiores, que se apresentam em desfiles, quanto as menores, que dependem de eventos e vendas locais, estão precisando se adaptar ao momento. A produção é inviabilizada até mesmo pelas restrições de isolamento social, impossibilitando um grande número de funcionários para produzir.
No entanto, no momento de crise, muitas vezes nos transformamos, nos reinventamos e reavaliamos o nosso potencial. E também medimos nossa força e coragem para superar crises. Nesse momento, o trabalho que desenvolvemos ao longo do tempo é também lembrado, reconhecido e desejado. Pois ele supre, além de necessidades, supre sonhos, a coisa mais desejada do momento. A pressa deu lugar a um olhar mais amoroso e cuidadoso sobre o vestir e esse é o papel do profissional da moda. O olhar cuidadoso e atento em atender a quem nos entrega e confia importantes e marcantes datas e fases de suas vidas. Eu, nesse momento de mudança na rotina de trabalho, tenho me dedicado a me especializar mais e me aprimorar naquilo que faço. Aumentando e estendendo o leque de possibilidades de atendimento dentro da minha área. Buscando mais conhecimento, mais experiência e qualidade naquilo que me proponho a fazer. Acredito que só a entrega e o tempo que nos dedicamos, e o amor em persistir no que fazemos é o que nos torna fortes e criativos para acreditar que amanhã será um dia cheio de possibilidades.”
Evacira Coraspe
Jornalista. Administradora. Professora de bordado terapêutico. Assessora de Comunicação na Câmara Municipal e Apresentadora do Programa Movimento na TV Câmara. Autora do livro Flor de Chita.