Por João Paulo Furtado da Silva Oliveira

Psicólogo formado pela Universidade de Uberaba e Especialista em Neuropsicologia pelo Instituto Israelita Hospital Albert Einstein


A música HALO da artista Beyoncé retrata um importante conceito da psicanálise e clínica winnicottiana – HOLDING (segurar/conter/sustentar). Partindo do princípio que, ao nascermos, não nos damos conta da nossa própria existência, ou seja, nem mesmo existimos em nós. Sabemos também que a realidade da vida é dura, a própria existência é um desafio para nós. Imaginemos então o bebê. Um ser nascido há pouco tempo, não anda, não fala, não entende nada do que está acontecendo. Ele já nasceu, o cordão umbilical, o qual o nutriu por um bom tempo, já foi cortado, ou seja, ele está por si no mundo. Ele é um ser bem simples, sem muitos recursos, ele sente frio, fome, sede, medo, dores e por si só não consegue suprir essas necessidades. Daí torna-se necessário a ajuda de um cuidador. 

Esse cuidador tem a importante missão de defendê-lo das atrocidades da vida. A partir desse momento ele começa a existir no outro e somente a partir daí ele terá condições de existir. Até agora falamos do bebê, mas podemos expandir essa conversa também aos adultos. 

A vida por si só é difícil! Assim como no começo de nossa vida, nós adultos também precisamos de sustentação, de alguém que nos sustente. Está tudo bem precisarmos ser envoltos pelo abraço de alguém, precisamos da experiência de ter alguém que sobreviva a nós. Esse alguém, que nos sustenta, tem poderes. Quando estamos com a sensação de estar sempre caindo, ele consegue inverter a própria gravidade. 

Ser sustentado é um caminho sem volta. As “marcas” deixadas pela sustentação podem ser vistas e todos os lugares. Como diria Freud “Como fica forte uma pessoa que está segura de ser amada”. 

Como dito na música “Em todo lugar que eu olho agora, estou rodeada pelo seu abraço, posso ver sua auréola, você sabe que é minha graça salvadora, você é tudo que eu preciso e mais, dá para ver no seu rosto, posso sentir sua auréola”. 

Quando somos sustentados “é como se eu estivesse despertando”, após vermos nosso reflexo no olhar do outro, gentilmente passamos a existir. Existir a partir do outro e também resistir a parte da sustentação do outro, aliás... cá para nós, como na música Ainda Há Tempo (Criolo Doido), “até o mais desandado dá um tempo na função quando percebe que é amado”.