Desafios e oportunidades da educação remota durante a pandemia
Jornalista Juba Maria
Não há como negar que as tecnologias digitais ajudam a reduzir distâncias e possibilitar mudanças. Por isso mesmo, na pandemia do novo coronavírus, os dispositivos tecnológicos (mármores modernos) passaram a mediar o contato entre professores e estudantes mundo afora.
Apesar disso, profissionais da área de educação de Uberaba consultados para esta matéria estão preocupados com o reforço das disparidades entre ensino público e privado. Enquanto alunos das escolas particulares fazem uso de notebooks, celulares e tablets para assistirem aulas remotamente, nas escolas públicas, muitos professores e alunos sequer tem acesso à internet. Um cenário em nada consolador para pais e professores.
O aumento dessa disparidade entre rede pública e privada de ensino é o que preocupa a professora aposentada Maria Abadia Vieira, que por 12 anos foi gestora da Escola Municipal Adolfo Bezerra de Menezes. Ela é uma dessas pessoas esperançosas que não se conformam “com a vida estagnada e com os mandamentos da educação de mármore”, como no poema de Carlos Drummond dedicado à mineira universal, Helena Antipoff.
Na análise de Abadia, o ensino público brasileiro em geral é ainda muito atrasado em termos de tecnologia. “São escolas esquecidas há décadas, com computadores sucateados, professores sem habilidades para utilizar as mídias e para gerir aulas criativas e interdisciplinares. Ofertar o ensino remoto para essas escolas durante a COVID-19 tem sido muito difícil, senão impossível”, comenta.
Essa disparidade foi também apontada por Clayton Romano, professor do departamento de História da Universidade Federal do Triângulo Mineiro. Ao longo da história brasileira, segundo ele, a educação sempre foi tratada como privilégio reservado a poucos. Hoje não é diferente: segundo Clayton, a educação pública nos níveis iniciais destina-se aos pobres, enquanto a educação privada serve aos ricos e setores médios, que se matam para honrar mensalidades por morrerem de medo da escola pública.
Fato é que durante a pandemia, a educação privada tem conseguido manter seu calendário de maneira remota, enquanto o ensino público parece colher fracassos. “Daí, que gestores públicos e empresários da educação se empenhem tanto no retorno ao ensino presencial, o que, a meu ver, é hoje uma temeridade”, analisa.
Clayton faz ainda uma distinção entre o ensino remoto, realizado atualmente na pandemia, e o ensino à distância (EaD), esse último contando com sistemas e plataformas específicas. Ele acredita também que o EaD poderia ter importância estratégica no desenvolvimento civilizacional do país se a educação fosse tratada a partir de sua dimensão pública.
Em vez disso, avalia que tanto o EaD quanto o atual ensino remoto apenas estariam provocando o rebaixamento da qualidade do ensino. Ou, em suas palavras, resultando "em notório prejuízo programático e metodológico, em uma forma de rebaixamento da produção do conhecimento em relação ao que fora inicialmente proposto".
Também a professora Maria Rita Nascimento ressalta que a pandemia apenas evidencia as desigualdades. De acordo com ela, a escola deveria ser espaço para reduzir as diferenças sociais e abrir caminhos para democratizar a informação. Consequentemente, deveria permitir o acesso ao mercado de trabalho. Mas, em vez disso, acaba solidificando ainda mais as diferenças sociais.
Isso estaria ocorrendo porque durante o isolamento social, a educação privada segue oferecendo aulas remotas através das tecnologias e com o apoio das famílias. Por outro lado, a realidade da grande maioria das escolas públicas, principalmente nas periferias, é outra. “Muitas famílias não têm acesso às tecnologias, são pessoas com pouca escolaridade ou analfabetas”, diz. Para Maria Rita, o grande desafio não está nas tecnologias - que são, inclusive, bem-vindas - mas nessa dualidade social.
A professora particular de inglês, Brunna Gonçalves Leôncio, também percebe dificuldades no ensino remoto. Segundo ela, os pontos negativos de se ter aulas online é que, na maioria das vezes, os alunos desempenham simultaneamente várias outras atividades. Além disso, segundo ela, ficar tanto tempo na frente de uma tela causa mais desgaste do que as atividades presenciais. “Isso sem falar nos problemas técnicos, sobretudo causados por problemas de conexão com a internet, que podem atrapalhar a fluidez das aulas”, comenta.
Embora atue no setor privado, ela reconhece que o ensino remoto é para poucos. “Um projeto de alfabetização que eu realizava com alunos do ensino fundamental, por exemplo, precisou ser descontinuado, já que eles não possuíam as ferramentas necessárias para isso”, confessa.
Mas a jovem ressalta que também há pontos positivos, como a descoberta de ferramentas melhores e o uso de diferentes mídias. “Um aprendizado de como aproveitar melhor as tecnologias, que com certeza será continuado mesmo depois que as atividades presenciais puderem ser retomadas”, analisa. “O principal aprendizado que tirei desse modelo é que online ou presencialmente, cada indivíduo tem uma jornada própria de aprendizagem”, reflete.
Siga a Revista Mulheres no Instagram (@revistamulheresoficial) e no Facebook (@mulheresuberaba).