Jornalista Isabel Minaré
Elas fizeram o espetáculo acontecer! Do planeta inteiro, com origens diferentes e trajetórias únicas, as mulheres marcaram a história das Olimpíadas. Pela primeira vez em 128 anos, elas ocuparam quase 50% das vagas de atletas. Paris foi a edição com a maior participação e vitória feminina de todos os tempos.
Marcos que merecem diálogo e comemoração! Afinal, para chegar até aqui, infinitos desafios precisaram ser superados. Para se ter uma ideia da dimensão da batalha, a primeira edição olímpica foi realizada em Atenas em 1896. Mas, apenas em 1900, também em Paris, uma mulher teve permissão para competir. Isso mesmo, autorização! A suíça Hélène de Pourtalès fez a diferença e conquistou as medalhas de ouro e prata pela vela. Hélène e Paris significam, desde então, aberturas de caminhos para as atletas!
Duda e Ana jogaram com a Torre Eiffel ao fundo
De lá pra cá, muita bola rolou. Os movimentos feministas ao redor do globo, inclusive para exigir a participação das mulheres na maior competição mundial, fizeram com que o número das atletas aumentasse gradualmente até atingir picos, como o desta edição. Paris 2024 foi única pela representatividade feminina, cenários icônicos e confrontos emocionantes.
Khelif é mulher e respondeu às provocações ao conquistar a medalha de ouro
No meio do triunfo, uma polêmica. O torneio passou a ter outro sentido, agora contra a desinformação e o discurso de ódio. As boxeadoras Imane Khelif, da Argélia, e Lin Yu-Ting, de Taiwan, tiveram que derrotar adversários muito mais fortes do que as outras boxeadoras. As acusações nas redes sociais: - Podem homens competir nos lugares das mulheres? Claro que não! Todas essas notícias falsas surgiram a partir dos corpos das atletas. Na verdade, elas têm hiperandrogenismo, uma condição caracterizada por níveis muito altos de hormônios masculinos naturalmente produzidos pelo corpo. Segundo o Comitê Olímpico Internacional (COI), as duas foram aprovadas nos critérios médicos das Olimpíadas. Portanto, são mulheres. Não se trata de atletas transgênero. Khelif respondeu às provocações com a conquista da medalha de ouro.
Beatriz Souza emocionada com a sonhada medalha de ouro
Celular, computador, TV, rádio, jornais, revistas, ... Em qualquer meio de comunicação, só davam elas: as brasileiras! Bronze, prata e ouro, não importa a medalha. O que ficou no coração foi a garra feminina. Paris 2024 foi a primeira vez em que a delegação brasileira foi majoritariamente feminina. De 277 atletas, 55% eram mulheres, 8% a mais que o que foi registrado na última edição das disputas, em Tóquio (Japão).
Rebeca Andrade, a maior medalhista olímpica da história do Brasil
E foi vitória atrás de vitória! De forma inédita, as mulheres conquistaram mais pódios do que os homens. Das 20 medalhas, 12 foram delas, o que representou 60% do total. Isso sem contar com a participação no bronze da equipe mista de judô. Quando o assunto é ouro, o domínio feminino é superior. Entre os atletas brasileiros, somente mulheres subiram ao lugar mais alto do pódio. Beatriz Souza (judô) foi a primeira brasileira a receber a medalha dourada nos Jogos Olímpicos de Paris. Em seguida, Rebeca Andrade (ginástica artística) derrotou a americana Simone Biles para ficar com o título no solo. Dessa forma, Rebeca se tornou a maior medalhista olímpica da história do Brasil, com seis medalhas, quatro delas na capital francesa. É mesmo a rainha do Olimpo! Aos pés da Torre Eiffel, a dupla formada por Duda e Ana Patrícia (vôlei de praia) também ficou com o título no evento esportivo de maior relevância planetária.
Rayssa Leal se tornou a mais nova a conquistar medalhas em Olimpíadas diferentes
Fora elas, ainda subiram nos pódios Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira (ginástica artística), seleção feminina de futebol, Tatiana Weston-Webb (surfe), Rayssa Leal (skate), seleção feminina de vôlei e Bia Ferreira (boxe). O Comitê Olímpico Brasileiro (COB) distribuiu aos vencedores (inclusive aos homens) uma premiação de R$ R$ 4.620.000,00. Por falar em COB, ele só ‘acordou’ para as necessidades de incentivo ao esporte feminino com os Jogos Olímpicos Rio 2016. Em 2021, criou a área Mulher no Esporte. Os investimentos contemplaram não só atletas como treinadoras e gestoras. Mesmo com tantos recursos, a mulherada segue de fora dos principais cargos de decisão do esporte no país. O Conselho de Administração, responsável por definir estratégias e orientar a direção do próprio COB, é formado por 12 homens e apenas uma mulher, Yane Marques. Ou seja, as mulheres são medalhistas, entretanto quem decide por elas são os homens.
O que foi visto em Paris se reflete na sociedade – as mulheres se fortalecem e ocupam diversos espaços com competência, talento, resiliência e múltiplas habilidades. Porém, ainda há muito a conquistar. Por ora, muitos aplausos, lágrimas e exemplos para as próximas gerações!