Por Nathalia Marinelli


Por trás das roupas que compramos está a produção em massa para atender o consumismo e os resíduos químicos provenientes desse processo. Neste sentido, moda sustentável busca questionar esses métodos. 

Além dos resíduos poluentes que são gerados durante a produção, cerca de 300 mil toneladas de roupas usadas são doadas ou descartadas. Para se ter uma ideia, o consumo da indústria têxtil chegou a aproximadamente 73 milhões de toneladas. A probabilidade é de que esse número crescerá 4% a cada ano até 2025. Entretanto, por outro lado, somente 20% desses tecidos são reciclados por ano em todo mundo. Uma quantidade muito baixa tendo em vista a grande produção. 


Roupas nem sempre são recicladas 

Os Estados Unidos são os detentores do maior mercado de vestuário, possuindo aproximadamente 30% do volume total. Isso se deve ao modelo de consumo fast fashion, que vai contra à sustentabilidade. 

O modelo de moda rápida ganhou força a partir da década de 1990, quando os consumidores encontravam nas lojas coleções novas praticamente todas as semanas e com o preço baixo, mudando a forma de produção da indústria têxtil. 

A produção das roupas passou a ser feita de forma mais veloz e barata. Contudo, essa fabricação foi transferida para os países do terceiro mundo, onde a mão de obra é mais barata e não há regularização de direitos trabalhistas e condições de trabalho. 

O salário de um trabalhador da indústria têxtil, em um país com economia subdesenvolvida, é cerca de 2 a 3 dólares por dia. Isto é, o consumo em massa na indústria da moda tem um alto preço, não para o consumidor final, mas para os trabalhadores que fabricam as peças e ao meio ambiente. 


O trajeto da roupa da fabricação até o descarte  

Uma peça de roupa deixa uma grande pegada durante seu processo de vida, que vai desde ao plantio do algodão, colheita, produção, processamento, transporte, uso e descarte. 

Os agrotóxicos usados no cultivo do algodão, as tintas e outros produtos químicos usados na fabricação e os resíduos das roupas descartadas em aterros são os custos ambientais de uma peça de vestuário. 

Há materiais, como o algodão que, além de recicláveis, também são biodegradáveis. Enquanto o poliéster e nylon, que são materiais sintéticos, podem até ser reciclados, mas não são biodegradáveis, o que faz com que milhares de fibras minúsculas e produtos químicos sejam enviados aos oceanos no processo de reciclagem de peças desses componentes. 


Qual a solução para mudar o modelo de produção atual?  

Para minimizar os impactos da moda, a solução é repensar o ciclo completo de vida da peça de roupa que consumimos e evitar o desperdício. A produção deve ocorrer de forma consciente, com aplicação de novas tecnologias, para que todos os resíduos sejam reciclados. 

Repensar a produção e tonar a moda sustentável e consciente é um grande desafio. 

Aos poucos, esse panorama começa a mudar. Estilistas como Ralph Lauren, Stella McCartney e Eileen Fisher já usam em suas peças tecidos orgânicos ou feitos da reciclagem de materiais. Esta é uma maneira de reduzir o desperdício de energia, água e produtos químicos na produção têxtil. 


O que torna a moda sustentável  

É inegável que o mundo da moda está buscando alternativas para a conservação do meio ambiente. Daí surge a moda sustentável e a necessidade de engajar cada vez mais consumidores em atitudes que estejam ligadas ao conceito de consumo consciente. 

Mas o que é moda sustentável? Também chamada de eco fashion, a moda sustentável está ligada à forma que os artigos de moda são produzidos. Ela se preocupa em usar métodos de produção que anulem ou pelo menos minimizem o impacto ambiental. 

Usar algodão orgânico, que pode ser 100% reciclado e biodegradável, está entre uma das formas de se fazer moda sustentável. 

Neste sentido, a moda sustentável está na contramão das fast fashions, pois seu principal objetivo é a oferta de peças com durabilidade e que tenham o uso prolongado. Na moda sustentável, são utilizados métodos menos poluentes, como: 

* Aplicação de corantes naturais e colas menos tóxicas para que não haja a poluição dos oceanos e lençóis freáticos; 

* Uso de tecidos eco-friendly, onde são usadas fibras orgânicas, que reduzem o consumo de água e produtos químicos na produção; 

* Reutilização de tecidos e outros materiais usados e descartados; 

* A preocupação em produzir peças que possam ser utilizadas por um longo período, tendo em vista que a produção voltada para as fast fashions valoriza o consumismo e o descarte rápido das peças, que são usadas em média somente 5 vezes. 


O que é moda consciente?  

Os debates em torno da moda consciente se intensificaram nos últimos anos, principalmente após a repercussão do desabamento, em 2013, do Rana Plaza, que era um prédio que abrigava uma fábrica têxtil em Bangladesh. Mais de 400 pessoas morreram. O prédio já apresentava rachaduras, mas os sinais foram ignorados, pois a produção não podia parar. Nessa fábrica eram produzidas roupas para grandes marcas de fast fashions ocidentais, entre elas a britânica Primark. 

A tragédia é retratada no documentário francês “The True Cost”, que aborda os diversos aspectos e impactos da indústria da moda na sociedade, em especial após o boom das fast fashions. 

Muitas pessoas pensam que moda sustentável e moda consciente são a mesma coisa. Apesar de serem complementares, existem diferenças no conceito de moda sustentável e moda consciente. 

Enquanto a moda sustentável se preocupa com as formas de produção da indústria têxtil, a moda consciente é quando o consumidor manifesta em suas compras a preocupação com as questões ambientais e também sociais, que envolvem a produção em massa das fast fashions. Neste sentido, ele busca produtos com materiais sustentáveis de qualidade e que, além de terem maior durabilidade, também sejam atemporais, como são os casos das roupas e acessórios de grifes. 

Comprar em brechós é uma forma de incentivar o consumo consciente e a moda sustentável. O consumidor consciente está em busca de peças que tenham significado e provoquem diálogo. Ele evita descartar a roupa rapidamente e preocupa-se em saber como foi a produção da peça. Isto é, se foi produzido em países do terceiro mundo em condições de trabalho precárias, o tipo de tecido e componentes usados, se é possível fazer a reciclagem total após o descarte, entre outros fatores. Ele sabe que pode ser agente transformador da sociedade a partir de seu ato de consumo. 


Como ser um consumidor consciente?  

O primeiro passo para se tornar um consumidor consciente é analisar seu guarda-roupa e manter nele somente aquilo que você usa. As roupas não usadas podem ser doadas ou disponibilizadas para venda em brechós, sites, lojas de aluguel de roupas, entre outros. 

Ao comprar uma nova peça você deve se questionar: “Será que preciso disso?” e optar por locais onde é possível comprar roupas de forma consciente, dando preferência às peças duradouras e atemporais. 

Nossa cidade possui brechós com roupas e acessórios de grifes atemporais, que seguem o proposto da moda sustentável e consumo consciente. 

Uma compra consciente precisa de informação. Por exemplo: ao escolher entre uma peça de algodão puro e poliéster, o consumidor que esteja preocupado com as questões ambientais deve optar pela de algodão, que pode ser reciclada. 

A moda precisa ser pensada de forma consciente, pois o que você compra e, principalmente, o que descarta, não são escolhas pessoais, já que estamos todos dividindo o mesmo planeta e recursos naturais.