Jornalista Isabel Minaré


Quem tem sucesso é admirado, observado e questionado. Com a Régia Ferreira de Lima não é diferente. Ela é a juíza de Direito da 3ª Vara Cível e presidente e relatora da 1ª Turma Recursal, ambas da Comarca de Uberaba. São cargos que chamam a atenção. Isso somado à beleza, genialidade e perseverança, características genuínas dessa tijucana nascida no Dia do Trabalho. O que ela mais ouve é: - Como faço para ser juíza? 

O processo é árduo e bastante concorrido. O primeiro passo é a conclusão do curso de Direito. Em seguida, vem a aprovação no concurso público de provas e títulos. É nessa parte que tem os maiores entraves, devido a tantas exigências: ser brasileiro, ter mais de 25 anos, estar no exercício de direitos civis e políticos, estar quites com as obrigações eleitorais e militares, ser bacharel em Direito por pelo menos três anos, gozar de boa saúde física e mental, não possuir antecedentes criminais, contar com pelo menos três anos de efetivo exercício na atividade jurídica, possuir condições psicológicas adequadas para o exercício do cargo. 

Fácil não é. Todavia, a missão foi cumprida por Régia logo no primeiro concurso que ela prestou – e olhe que esse nem era o sonho dela. Estava realizada e fissurada pela advocacia. No entanto, passou para a magistratura. Foi sorte de principiante? Jamais! Tudo dela é fruto de empenho máximo. Quando recebeu a notícia da aprovação, estava jogando bola na rua de casa. É a formalidade do cargo versus a molecagem de Régia. Um duelo de quem sabe extrair o melhor da vida. E, lado a lado com Deus, bons princípios e valores humanos, ela segue como o orgulho da família, dos amigos, do Direito e de Minas Gerais. 

Parar nunca foi uma questão. Para se ter uma ideia, ela já trabalhou nas comarcas de Belo Horizonte, Uberlândia, Frutal, Itapagipe, Iturama e hoje está em Uberaba. Foi acolhida, fez amizades e sentiu alegria em todas as cidades. A cada amanhecer, tem mais ânimo para enfrentar os milhares de processos que lhe são submetidos. Tem forças física e espiritual de sobra para superar cada obstáculo da carreira e os embates do cotidiano. Mas, nem tudo são flores nesta área. Decidir o futuro de outrem pode fazer da juíza uma vítima, ao ser ameaçada, perseguida, ... Ao ser questionada se tem medo da violência, ela exclama alto e bom som: Não! “Tenho tranquilidade, confiança e fé”, afirma. Assim segue, de cabeça erguida, passos firmes, sorriso fácil e certa de que labuta com esmero e plenitude. 

O sucesso da 3ª Vara Cível e da 1ª Turma Recursal vem de equipes unidas e disciplinadas. Para dar conta das demandas, Régia aprendeu a ser polivalente. Consegue responder mensagens no celular, falar ao telefone, resolver pendências e tomar diferentes decisões, tudo ao mesmo tempo. No tribunal, exerce a imparcialidade. É atenta às partes, advogados e todos os envolvidos em cada processo. Mesmo neutra, sente emoções, afinal, é humana. “Somos seres humanos sensíveis sim! E lutamos por um mundo melhor através da pacificação social”, argumenta. 

Por falar em sentimentos, a Régia, fora do âmbito profissional, tem aprendido a lidar melhor consigo mesma. Uma das maiores superações é o perdão. “Perdoar é difícil, mas quando nascemos com o coração guerreiro, somos superiores e perdoamos sempre”, conta. Perdoar é deixar as dores irem embora para abrir espaço a novas e saudáveis experiências. Essas, sim, devem ser guardadas e exaltadas. Pra que existir se não for para ser feliz? 

Momentos de felicidade e reflexão ela passa com a literatura. Agora, está lendo pela segunda vez ‘Como se faz uma tese’, de Umberto Eco, e ‘Romance de uma rainha’, de J. W. Rochester, além da inseparável bibliografia jurídica. Também escolhe por vários gêneros musicais, principalmente aqueles embalados pelo tambor (a batida do coração). “Acredito que temos que ser construtores de nós mesmos”, afirma. “E isso só é possível com engajamento, cultura, discernimento e equilíbrio”, completa. É a junção entre corpo, alma e espírito, sendo cada parte alimentada e aprimorada segundo após segundo. E por falar nisso, teve um encontro com o passado quando esteve na França e na Espanha. Emoções misteriosas e indescritíveis! 

A culminância da caminhada será quando ela realizar um grande sonho: tornar-se desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Como Régia diz, nada cai dos céus e, através de vasta experiência e caráter ilibado, ela pleiteia a vaga. “Gostaria que meu pai, de onde estiver, possa assistir a este momento único”, deseja. Ele é o grande exemplo de bondade, educação e integridade, valores que a filha herdou e pratica com louvor.