Jornalista Valeska Ramos


Não é novidade que as mulheres estão conquistando seu espaço e, no mundo do motociclismo não é diferente. Seja para trabalho ou lazer, cada vez mais mulheres assumem o guidão das motos e scooters. Afinal, o número de mulheres motociclistas cresceu 76,5% nos últimos dez anos. Segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito, analisados pela Abraciclo - Associação dos Fabricantes de Motos, atualmente existem 8.884.345 pessoas do gênero feminino aptas a conduzir motos. Em 2013, havia 5.034.139 habilitadas na categoria “A”. Isso significa que, hoje, uma em cada oito mulheres brasileiras está habilitada a conduzir uma motocicleta, segundo cruzamento de dados do IBGE e do Denatran. O público feminino, até então frágil, está deixando o machismo comer poeira! Embora ainda exista o preconceito, as mulheres estão provando que aquela adrenalina única da velocidade e a sensação de vento no rosto podem ser direito de todos, não uma exclusividade masculina. 


AMMU 

A Ammu, Associação dos Motociclistas e Motoclubes de Uberaba, fundada em 2013, sem fins lucrativos, constituída legalmente e reconhecida como utilidade pública municipal, conta com aproximadamente 150 pessoas efetivas. Várias mulheres participam ativamente na diretoria da Associação. A finalidade é fortalecer o motociclismo à nível municipal, estadual e federal. Segundo José Carlos Tosta Castro, presidente fundador da AMMU, são realizados encontros e eventos na praça Jorge Frange e, com apoio da Prefeitura, realizam eventos maiores, onde também desenvolvem trabalhos sociais, como arrecadação e doação de alimentos. Em Uberaba existem vários grupos destinados às mulheres amantes de moto, um deles é o “Luluzinhas”. Um grupo de 101 participantes, onde as mulheres, além de realizarem encontros, têm um trabalho de assistência social dentro da cidade de Uberaba. 

Elen Betânia de Oliveira Sena, 46 anos, é uma das diretoras da AMMU há seis anos e amante de duas rodas desde a década de 80. A paixão começou com um seriado da televisão denominado “Chips”, em que dois guardas pilotavam motos. Ela possui uma moto modelo Custom, viaja pelo Brasil inteiro e leva para dentro da AMMU a voz ativa da mulher na categoria. “Graças a Deus já existe um legado grande de mulheres dentro do motociclismo no Brasil”. Quando pego minha negona e desbravo essas estradas do país, fazemos parte da paisagem maravilhosa e não apenas passamos por ela. E essa sensação é indescritível”. Betania afirma que o perigo sempre existe, além do machismo que ainda permeia no meio. Porém, ela tira de letra todas as dificuldades, pois o amor pelo motociclismo é maior! “Queremos quebrar um pouco esse preconceito que muitas pessoas ainda têm quando vêem motociclistas vestidos de preto, com símbolo de caveira, que é o significado de que, quando morremos, não existe distinção, somos todos iguais, independente de raça, credo, nível social, esse é o verdadeiro significado da caveira”. 

Vários projetos estão sendo desenvolvidos para realizar juntamente com a prefeitura de Uberaba, tendo em vista que um grande encontro, a nível nacional, deverá acontecer ano que vem. Sem contar com toda mobilização feita durante todo o ano, como Outubro Rosa, Setembro Amarelo, Novembro Azul, Campanha de doação de sangue, todos visando auxiliar a população de Uberaba. 

“Tenho orgulho de ser mulher e estar dentro no motociclismo. Existe uma frase que usamos muito dentro dos grupos, que é: A união faz a força, juntos somos mais fortes e, com isso, podemos ajudar muitas pessoas”. 


Ladies do Cerrado 

Só o nome sugestivo já diz tudo. Mulheres apaixonadas pelo motociclismo, estradas e novas amizades formam o Ladies do Cerrado, um grupo criado na cidade de Uberlândia, mas que reúne mulheres de toda região.  Elas são loucas pelo motociclismo, estrada e novas amizades, pilotas de alta cilindrada, que adoram viagens e aventuras. 

Criado em 2018 por três amigas com o intuito de organizar passeios e inspirar o motociclismo feminino. O grupo cresceu e chegou a 35 participantes. Entre “rolês” e grandes viagens, o contraste entre a delicadeza da mulher e a robustez das máquinas causam admiração por onde passam. 

“Temos trabalho, famílias e muitos compromissos, mas sempre encontramos um tempinho para a mototerapia. Em cada rolê nos abastecemos de alegria, autoconfiança e energia positiva”. É o que conta Elza Maria Tavares Corrêa, 69 anos, pecuarista aposentada e motociclista há 45 anos. “Sempre apaixonada por moto, tive um esposo, também motociclista, que me incentivou muito a pilotar grandes motos. Hoje sou viúva e o motociclismo me proporciona uma vida de liberdade e independência. Convido todas as mulheres que gostam de moto: venham pilotar com a gente! Seguimos uma conduta de responsabilidade e segurança de pilotagem. É só curtir e ser feliz” 


Delicadeza X Cilindrada

Delicadeza e alta cilindradas na veia! Assim é a concepção que a uberabense e também uma “Lady do Cerrado”, a médica Valeska Vilela Carvalho,  mulher que mistura toque feminino em uma máquina potente de duas rodas! 

“O motociclismo de alta cilindrada entrou na minha vida há mais ou menos 3 anos. Eu já pilotava, mas era moto pequena na época da faculdade. Já gostava muito, mas nunca me imaginei em cima de uma moto grande, fazendo viagens de longa distancia”. A médica conta que tudo começou durante um relacionamento, ele era motociclista e viajava com amigos. “Fiz duas ou três viagens na garupa da moto dele, até que um dia ele me disse que eu teria que ir de carro com amigos, porque a garupa da moto que ele iria viajar não seria confortável para mim. Quando ouvi aquilo fiquei indignada, porque eu não queria ir de carro, queria era ir de moto e, sem me conformar com aquela situação, olhei pra ele e respondi: Então eu vou na minha moto! Ele ficou surpreso e disse: Mas como, você não tem nem moto. Eu respondi. Não tenho, mas vou comprar”. 

E assim começou. Depois disso, raras as vezes ela viajou na garupa da moto dele. “Hoje amo subir na minha moto e pegar estrada, seja sozinha ou acompanhada de amigos, estar no meio dessa família, sentir a energia boa, companheirismo e o rock and roll não tem preço. Minha viagem mais longa foi em setembro do ano passado. Um encontro de motos, o destino foi Assunção - Paraguai. Já tive duas motos Big Trail: a Triumph Tiger 800 e agora a Triumph Tiger 900. O motociclismo tornou-se uma paixão na minha vida. Por várias vezes me emocionei embaixo do meu capacete e só tenho a agradecer.” finaliza. 

Seja na garupa ou pilotando, cada vez mais as mulheres tornam-se verdadeiras donas da estrada, superando seus medos, incentivando umas às outras e ganhando mais espaço e representatividade. Não importa o veículo que pilotam: o importante é mostrar que as mulheres podem e devem pilotar suas próprias máquinas e vidas.



Elen e integrantes da AMMU


Elen Betânia de Oliveira Sena


Elza, motociclista há 45 anos, participante do Ladies do Cerrado


Grupo Ladies do Cerrado


Grupo Luluzinhas de Uberaba