Uberaba foi fundada em 1809, por Antônio Eustáquio da Silva e Oliveira. Na metade do século XIX, passou por um período de intensa prosperidade econômica e de crescimento populacional. Nesse contexto, a primeira construção dedicada a Santa Rita de Cássia, a santa das causas impossíveis, foi erguida, em pagamento de uma promessa. Hoje, revitalizada e transformada em museu, destaca-se pela arquitetura colonial na Praça Manoel Terra, polo turístico da cidade. Voltado para o Mercado Municipal e a poucos metros da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, o singelo edifício em arquitetura colonial se destaca na paisagem, contrastando com o vasto gramado do entorno e, sobretudo, com o trânsito intenso da avenida Leopoldino de Oliveira.
Igreja Santa Rita, localizada na Praça Manoel Terra, em Uberaba
Em 1854, Cândido Justiniano da Lira Gama, agente dos correios que sofria com o alcoolismo, mandou construir, no alto de uma colina, uma pequena capela dedicada à santa, ao se livrar do vício. Pouco mais de vinte anos após a construção da primeira capela, o prédio já precisava de uma reforma, a qual viria seguida de sua ampliação por outro devoto, o comerciante Joaquim Rodrigues de Barcelos, que recebeu a graça da paternidade e se dispos à construção de um templo ainda maior. A ampliação abraçou a pequena capela construída décadas antes, mas a incorporou de forma que a construção anterior pudesse ser reconhecida.
Interior da igreja, a primeira capela incorporada pela obra de ampliação de 1877 (Data em destaque no ponto mais alto do arco)
No ano de 1881, a igreja foi doada aos padres dominicanos, que chegavam à cidade. Nesse momento, a cidade contava com três templos católicos: a Igreja Santa Rita, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e a Igreja Matriz. A princípio, a pequena igreja atendeu à ordem dominicana, mas, em dois anos, surgiu a necessidade de um templo maior para a realização das celebrações. No ano de 1883, os dominicanos iniciaram a construção do Colégio Nossa Senhora das Dores e, pouco depois, em 1904, inauguraram o enorme prédio em estilo neogótico, com pedras tapiocangas aparentes, um dos cartões-postais da cidade, a Igreja São Domingos - o primeiro templo dominicano inaugurado no Brasil. O ano de 1939 foi importante para a cidade de Uberaba, porque a Igreja Santa Rita foi incorporada ao patrimônio artístico nacional. Naquela ocasião, era notório o abandono em que se encontrava o edifício, e a restauração, urgente, finalmente aconteceria. Mas, somente em 1987, após uma boa reforma, o interior da igreja foi adaptado para abrigar o Museu de Arte Sacra de Uberaba. Na época, a Fundação Cultural de Uberaba, dirigida pelo jornalista e historiador Jorge Alberto Nabut (in memoriam), em acordo com a arquidiocese de Uberaba, representada por Dom Benedito Ulhôa, decidiram pela inauguração de um museu de arte sacra na cidade de Uberaba. Desde então, o ambiente, antes reservado a poucas pessoas da comunidade católica da região, recebe fiéis ou simplesmente turistas interessados por arte, que passam todos os dias pelo Mercado Municipal. O acervo conta com diversos objetos litúrgicos, relicários, esculturas, oratórios, vestes cerimoniais e mobiliário que datam, principalmente dos séculos XIX e XX. Uma das mais importantes, por estar ali desde a primeira edificação é a imagem de Santa Rita. Durante os anos em que a reforma da igreja estava suspensa, a imagem esteve protegida pela Diocese de Uberaba, retornando ao altar da igreja em 1987, ano da reinauguração da igreja como museu de arte sacra.
Imagem do altar da Igreja de Santa Rita (Século XIX)
Dentre os objetos apresentados durante a visita conduzida por Adriana Cristina, que exerce a função de guia há décadas nesse museu, destacam-se uma cadeira, uma pia batismal e um confessionário. Esses objetos têm valor histórico e afetivo, pois eles contam a história da igreja que resistiu ao desmoronamento, à demolição e que, hoje, finalmente, desfruta do respeito das autoridades, da população local e de turistas que chegam de todos os estados para visitá-la.
Cadeira pertencente ao primeiro bispo de Uberaba, Dom Eduardo Duarte e Silva (Século XX)
Pia batismal em pedra sabão (Século XIX)
Confessionário, madeira (século XIX)
No museu, a maioria das imagens, feitas em pedra, madeira ou terracota, estão no altar ou dentro dos oratórios. Mas a pequena imagem de dezoito centímetros, protegida por uma vitrine, chama a atenção dos visitantes, pela dramaticidade da cena retratada. A representação da Virgem segurando o filho morto, reconhecida como pietá (piedade em italiano), é recorrente na arte sacra, em vários lugares do mundo. A escultura que encontramos no Museu de Arte Sacra destaca-se pelo contraste entre a pequenez da peça e o enorme pesar causado pela imagem de Jesus morto. Para quem entra no museu pela porta principal, a imagem em terracota encontra-se à direita, em uma vitrine próxima à parede, onde se encontram também outros objetos litúrgicos.
Os oratórios em exposição no museu são, em maioria, talhados em madeira de lei dos séculos XVIII e XIX e chamam a atenção pelo trabalho artístico ornamental, em talhes, entalhes e marchetaria. Nos suportes brancos (pedestais para as obras) que se encontram na entrada do museu, há alguns desses objetos de uso devocional. Os oratórios são, na maioria, semelhantes, quanto à altura e o material predominante na composição, mas, em meio a todos eles, um chama a atenção por trazer a imagem de Cristo esculpida em marfim, contrastando com a cor escura da madeira.
Há muito o que se pode ver, não só no edifício da Igreja Santa Rita e no MAS (Museu de Arte Sacra), mas também nas suas imediações. O Geossítio Santa Rita possibilita a ligação entre a Igreja São Domingos, a Biblioteca Municipal Bernardo Guimarães e o Mercado Municipal. Recentemente, a cidade de Uberaba ganhou renome internacional, por se tornar um Geoparque mundial chancelado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Isso ocorreu, principalmente, em razão do expressivo número de fósseis de dinossauros encontrados em escavações da região do distrito de Peirópolis, área rural da cidade, onde há um núcleo de pesquisas em paleontologia. Assim, devido à relevância científica e histórica, dois geossítios foram recentemente inaugurados em Uberaba e já tiveram o número de visitantes intensificado pela boa notícia: o Geosítio Santa Rita e e o Geossítio Peirópolis, com um complexo preparado para atender ao turista e contar a história dos estudos em paleontologia na região. O reconhecimento do Geoparque Terra de Gigantes – promovido pela UFTM (Universidade Federal do Triângulo Mineiro), pela Prefeitura de Uberaba, pelo Sebrae Minas e pela ABCZ (Associação Brasileira de Gado Zebu), promete um cenário de grande prosperidade para toda a comunidade uberabense.
Rowena Borralho M. Lacerda, professora especialista em Ensino de Literatura (UFTM) e em História da Arte (PUC); mestre Estudos Linguísticos (UFU).
Mozart Lacerda Filho, psicólogo, professor especialista em História da Filosofia (UFU) e mestre e doutor em História (Unesp). Atualmente, faz graduação em Turismo (Estácio).
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