Vitor Maluf é um dos nomes mais importantes do Brasil na história de combate do Coronavírus. Juntos com outros infectologistas do país ele é pioneiro nessa guerra e tem sido uma referência em saúde. O Médico que todos os dias está na área de isolamento cuidando dos pacientes, que atendeu centenas de pessoas infectadas e faz parte de um grupo cooperativista arrojado e sério, que busca soluções para as pessoas durante a pandemia parece incansável. Ele é uma voz experiente, empática e construtora que repete com toda dedicação: vamos vencer a pandemia?
Veja a entrevista exclusiva sobre as principais ideias de combate ao Coronavírus.
“Essa doença é tudo, menos uma gripezinha”
A pandemia ainda não acabou e está na sua pior fase. Nós estamos na fase mais crítica. Hoje, nós temos um colapso dos serviços de saúde, com praticamente 100% dos leitos destinados a Covid ocupados. Temos pronto-socorros lotados, com grandes números de atendimentos diários, temos uma letalidade aumentando, pois, com o aumento do número de casos, aumenta-se o número de casos graves, gerando o aumento de internações e óbitos. Isso é uma cascata, é um ciclo vicioso que acontece. Essa doença é tudo, menos uma gripezinha.
Risco de reinfecção pelo coronavírus
Mesmo pessoas que já tiveram a Covid uma vez podem ter reinfecção, as taxas de proteção das vacinas não são 100%. Em média, elas variam entre 90 e 60%. Quanto às que estamos aplicando aqui na cidade, uma delas varia entre 54% e a outra entre 74% e, ainda assim, mesmo imunizado as pessoas, é preciso manter todos os cuidados de prevenção como antes de ser vacinado, pois novas cepas e novas variantes estão circulando e pode haver o risco de uma reinfecção pelo coronavírus.
Vacinar é solução
Quando vemos as pessoas aglomerando, as pessoas reunidas em bares, restaurantes, sem nenhum tipo de prevenção, sem o controle mínimo, nós sabemos que isso vai estourar no serviço de saúde. São os serviços de saúde que terão de “pagar o pato” para tudo isso que está acontecendo hoje. Solução só tem uma: vacinação. Enquanto não tiver pelo menos 70% da população vacinada, nós não teremos uma melhora quanto a isso.
Vacina democrática
A vacinação da Covid está liberada para grande parte da população, são pessoas acima de 18 (dezoito) anos, não está liberada para crianças. É uma vacina que podemos utilizar em imunossuprimidos, como pacientes portadores de insuficiência renal, pacientes reumatológicos, pacientes em uso de corticoides, imunossupressores. É liberada também para pacientes HIV positivo, em todas as situações, desde que possuam imunidade normal até para aquelas com imunidade mais baixa. Pode também ser liberada para pacientes que tenham doenças crônicas como hipertensão, diabetes, pacientes com tuberculose. Então, essa é uma vacina bem ampla, que pode ser usada nessas diversas populações. No Brasil, temos poucas restrições com essa vacinação, sendo somente restrita para aqueles que possuírem alergia há algum componente da fórmula mesmo.
Ainda há muito para saber
A gente percebe que grande parte das pessoas que possuem doenças mais graves têm alguma comorbidade. Mas, hoje, estamos observando doenças graves em outras faixas etárias, sendo estas mais baixas, e com pessoas que não têm comorbidades. São várias explicações, primeiro: a história natural da doença, pois a gente sabe que grande parte dos casos são casos leves mas que, entre 10 e 15%, podem precisar de hospitalização e, 5% em média, de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) com ventilação mecânica. Se você aumenta o número de casos nas faixas etárias específicas, em faixas etárias mais novas, teremos mais casos e mais graves, isso pela história natural da doença. Outro fator, as cepas mais agressivas que aumentam a transmissibilidade e a infecciosidade entre as pessoas. Podemos pensar também na predisposição natural dos indivíduos a terem doenças mais graves. Enfim, são vários os fatores que podem explicar isso.
Ainda não tem nada aprovado que seja definitivo
Quando tivermos grande parte da população vacinada, nós começaremos a ter um controle da doença, haverá diminuição do número de casos, do número de casos graves, do número de internados. Não tem nenhum medicamento específico que funcione para a Covid aprovado até hoje. O que se sabe é que, nos casos moderados e graves, as pessoas se beneficiam com o aporte de oxigênio, beneficiam-se com o uso de anticoagulantes, beneficiam-se com o uso de corticoides e com o uso de anti-microbianos. Outras terapias, todas estão em estudo ainda, carecem de comprovação e ainda não têm nada que seja aprovado definitivo para o tratamento da Covid. Diferente, por exemplo, do tratamento da H1N1 que já temos um anti-viral que funciona com o vírus e, com isso, uma resposta muito boa de tratamento.
Mudança no código genético
uando temos um vírus ou uma bactéria, conseguimos fazer o sequenciamento genético deles. Então, teremos o código genético deles determinado. Os vírus são seres infecciosos que têm uma capacidade de mutação muito grande, e isso significa que ele muda o seu código genético, mudando a sua disposição sequencial. Quando comparamos uma cepa virgem, inicial, com uma cepa que tem uma mutação ou uma variante, veremos que no código genético dessas cepas tem várias mutações, várias mudanças na disposição do código genético, e isso pode levar a um aumento na infecciosidade das cepas, ficando mais infectiva e pode ficar mais agressiva. Isso é facilmente explicado através do vírus da gripe, que muda sempre e por isso todo ano nós tomamos a vacina com atualização da cepa, porque houve uma mudança no código genético desses vírus, gerando novas cepas do mesmo vírus. Ou seja, muda a disposição do seu código genético e muda como o vírus se porta no organismo e como a doença se apresenta nos organismos por causa da mutação dessas cepas.
Outras doenças
Não vamos esquecer que agora é época do Influenza sazonal, do H1N1, que são doenças respiratórias também, associadas com o inverno, que podem dar quadros semelhantes ao coronavírus. Por isso, é importante a vacinação contra a gripe também, para prevenir essas outras doenças. Com a pandemia do coronavírus, nós acabamos esquecendo das outras doenças e não podemos nos esquecer, essas outras doenças não acabaram e precisamos ficar alerta contra elas também. O prazo entre uma vacina e outra é de 14 dias, antes ou depois, independe. Você tomou qualquer uma delas, para tomar outra, tem que ter um espaço de 14 dias. Depois está liberado, pode fazer sem problemas.
Cuidado permanente
Além dos fatores de distanciamento, uso de máscara, higienização das mãos com lavagem ou álcool gel, é preciso tentar manter o nosso organismo saudável. Não precisa ficar tomando suplementos ou outras medicações, se você tem uma alimentação saudável e balanceada, variada com carboidratos, proteínas, legumes, verduras, frutas. Manter a qualidade do sono, realizar exercícios físicos, mantendo o seu organismo saudável, com certeza você terá uma chance melhor de responder, não só ao coronavírus, mas a vários outros processos infecciosos.