Consulta online é opção viável na pandemia

Jornalista Isabel Minaré


Foto: Ighor Thomas


De um lado, o médico. Do outro, o paciente. E entre eles: uma mesa em um consultório? Quem imaginou essa cena certamente ainda não conhece a telemedicina. O exercício da medicina à distância mediado por Tecnologias de Informação e Comunicação tornou-se mais frequente na pandemia do novo coronavírus.

A telemedicina existe há muitos anos no Brasil. No entanto, ela era permitida somente em casos específicos e emergenciais. O presidente Jair Bolsonaro mudou essa realidade ao sancionar a Lei nº 13.989/2020, na qual autoriza o uso da especialidade médica virtual em todos os campos da saúde enquanto durar a crise ocasionada pela covid-19.

O texto legislativo chama a atenção do médico para comunicação e obediência às normas. Ele deve informar os pacientes sobre todas as restrições da prática, considerando a impossibilidade de realização de exame físico no decorrer da consulta, e obedecer aos mesmos padrões normativos e éticos do atendimento presencial, até mesmo sobre o valor cobrado. Ou seja, o que muda é a forma de consultar, que deixa de ser física para ser online, através do uso de computador, tablet ou celular, com sistema audiovisual adequado.

O neurologista Emerson Milhorin exerce a telemedicina desde maio. “Em um período de distanciamento social, ela se torna extremamente útil. Também é bastante interessante para pacientes residentes em locais distantes e sem necessidade de exame físico nem de procedimentos cirúrgicos. Todavia, quando há precisão de exame físico e/ou algum tipo de procedimento, obviamente apenas a consulta presencial poderá resolver”, assegura.

Para desempenhar a medicina remota, além das exigências habituais, como registro e cumprimento das obrigações no Conselho Regional de Medicina (CRM), Emerson e os colegas necessitam de uma plataforma de videoconferência com proteção de dados (para garantir a privacidade e o sigilo dos pacientes), assinatura digital legítima e programa de validação de receitas junto ao Governo Federal (os dois últimos para reduzir os riscos de fraudes). Milhorin adverte que, até o momento, apenas os medicamentos de receita azul (receituário B) e amarela (receituário A) não estão incluídos no sistema online.


Para Emerson, somente a consulta presencial pode resolver quando há necessidade
de exame físico. Foto: divulgação


As teleconsultas (consultas virtuais) correspondem a mais de 85% do total de atendimentos da clínica geral e especialista em Medicina da Família Renata Dutra.  A maioria das consultas dela envolve pessoas do grupo de risco, idosos, hipertensos, diabéticos, portadores de doenças pulmonares e/ ou crônicas, com suspeitas de infecção por SARS-CoV-2 ou receio de sair de casa e se expor ao vírus.  Até a secretária da Renata é virtual. O objetivo é executar um trabalho humanizado e de acompanhamento mesmo de longe.


85% do total de atendimentos de Renata é por telemedicina. Foto: Marise Romano

Parceira publicitária: Unimed Uberaba


Os doutores prescrevem as receitas digitais, enviadas por e-mail ou aplicativo de mensagem aos pacientes, posteriormente encaminhadas às farmácias. De acordo com Ludmila Pedroso, farmacêutica responsável da Vital Farma, 30% da demanda do estabelecimento é atendida através de receitas digitais. “Elas vêm iguais às físicas, mas em formato PDF. É mais cômodo para o cliente”, alega. Além da praticidade, outra vantagem é o fim das interpretações errôneas da famosa “letra de médico”, afinal o problema deixa de existir com a receita digitada.


Ludmila explica que as receitas digitais são salvas em formato PDF.
Foto: Ighor Thomas


De acordo com a delegada do CRM de Minas Gerais Regional de Uberaba, Fabiana Prado, a telemedicina não pode ser banalizada. É preciso uma regulamentação rigorosa do Conselho para que os serviços (seja presencial, seja digital) tenham a mesma qualidade. Entre as funções do CRM, está a fiscalização do exercício da medicina. “As denúncias devidamente identificadas e as publicações de possíveis irregularidades médicas na imprensa e nas mídias sociais são os principais provocadores para que o Conselho possa desempenhar legalmente sua função fiscalizadora. Entretanto, ele deve manter em sigilo todo o trâmite seguido desde o início dos procedimentos até as conclusões finais pós-julgamentos, exceto se a pena já inclua a publicação dela mesma”, descreve a delegada.


Fabiana afirma que a telemedicina não pode ser banalizada.
Foto: arquivo pessoal


Algumas empresas investiram na criação de uma plataforma exclusiva de inteligência artificial para atendimento. É o caso da Unimed Uberaba. De acordo com a assessoria de imprensa da cooperativa, clientes do plano e aproximadamente 600 médicos já podem contar com o sistema para telessaúde (serviços de atenção à saúde pela internet), disponibilizado gratuitamente. Pacientes que estiveram presencialmente no consultório, pelo prazo de um ano, podem se interligar outra vez utilizando o agendamento eletrônico. Novas conexões ligaram sistemas atuando para a interface com ambientes de diagnóstico, exames e outros necessidades para a manutenção da saúde.


Wilson Adriano, presidente da Unimed Uberaba.
Foto: divulgação


M.A. fez teleconsulta com a Renata. Ela aprovou o método. “Fiquei mais de uma hora com a doutora no telefone. Adorei, achei prático, rápido, dinâmico e pretendo continuar assim”, comenta. O futuro da telemedicina é incerto. Mesmo com a restrição na lei, todos os profissionais citados acreditam na permanência dela após a pandemia. O CFM, inclusive revisa a prática e prepara uma nova resolução.


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