Marcos Moreno


Sobre gostar e fazer 

As notícias sobre o crescimento do mercado pet no Brasil são abundantes. “O mercado que não sofreu os efeitos da crise”, “os milhões que faturam empreendimentos no segmento” e outras maravilhas mais lotam as mídias específicas do universo financeiro e até de um modo geral também. Empreendedorismo em alta também no que diz respeito aos serviços de banho tosa, saúde, etc.  Claro que o setor só cresceu em consequência do que acreditamos (muitos de nós) ser uma maior conscientização do homem em relação aos animais, especialmente os pets que são os animais domésticos de estimação. Gato, cachorro e papagaio (esse último foi substituído pela calopsita, que vem ganhando cada vez mais espaço nos lares brasileiros). Tudo ótimo: consciência, mercado, mídia ... Que bom se tudo fosse só assim mesmo, maravilhoso e alvissareiro. 



A onda pet 

Nessa esteira que rola de vento em popa a favor dos bichinhos estão pegando carona os interesseiros de toda ordem. Humanos, claro. O bicho só tem interesse em viver bem recebendo amor. Os cuidados físicos que recebem são consequência do amor que por eles sentem alguns humanos e que eles retribuem em dobro, para dizer o mínimo.  Parece que recentemente os políticos descobriram que eles são excelentes cabos eleitorais e, muitos, visualizando apenas as glórias, e surfaram e surfam felizes na “onda pet”. 


Gostar 

E assim foram eleitos pelo Brasil afora para cargos políticos em todas as esferas, essas pessoas que literalmente usaram a causa animal para se eleger. No palanque virtual e em todos os modos de campanha, cãezinhos no colo, carícias e poses. Questionados, em algumas circunstâncias, sobre sua vida pregressa em relação aos animais, a resposta que mais se ouve é quase uníssona: “sempre gostei”. No mundo real, afora os políticos, também ouvimos muito essa expressão. O que é preciso que nós todos prestemos atenção é que gostar é muito subjetivo. Gostar de animais não gabarita ninguém para se eleger a um cargo público por esse motivo. A pessoa que não gosta de animais é, especialmente hoje com os meios de comunicação que temos, apontada como um vilão, um covarde. Quem quer ter essa imagem? Um aspirante a cargo político? Claro que não. Ai, quando conferido o que fez durante sua vida inteira pelos animais vêm com essa resposta: “sempre gostei”. Sim, mas o que fez por eles? Gostou de ver os filmes lindos nas telas do cinema? Imagens na tela não têm cheiro ou dor. Não faz assumir compromisso com uma criatura inocente que depende de você para comer, saciar sua sede, ter uma ferida tratada ou uma dor controlada. Gostar simplesmente é o mesmo que “não gosto, mas não maltrato”. Não é preciso gostar, até porque isso não basta. Quem se propõe a se declarar pela causa, seja como político ou não, tem que fazer. 


Fazer 

Há inúmeras maneiras de dar visibilidade a esse “gostar”. Treinar a “equipe” de campanha para falar pelos cantos aos apreciadores da causa: “olha, fulano (candidato) gosta muito de cachorro”. Fazer uma foto fazendo um carinho na cabeça de um cachorrinho. Os políticos eleitos pela causa precisam sim ser fiscalizados pelas pessoas que realmente gostam de animais. Essas levam bichos para suas casas para tratar e conseguir um bom lar para aqueles que são socorridos por elas (ou por outro). Tratam da saúde deles, socorrem em situações de atropelamentos, abandono, etc. Gostam de animais – “sempre gostei” - e “fazem” o que podem por eles. Muitas vezes, até o que não podem. A cidade de Uberaba-MG (onde são postados os conteúdos deste blog), acaba de ter um PL aprovado por unanimidade que institui o dia do Protetor Independente de Animais. Exatamente essas pessoas abnegadas que gostam e fazem a diferença entre “gostar e fazer” por eles. Super louvável. Isso é um reconhecimento público. Está instituído.



Espetáculo 

É preciso estar realmente muito atento porque as redes sociais são os locais perfeitos para os “caroneiros” da esteira do universo pet postarem seus atos “heroicos” de resgate de animais.  A foto “registrou” o ato, “validou” o voto e “justificou” a candidatura. Mas uma foto de um resgate do qual mal participaram verdadeiramente não traduz uma vida inteira de “sempre gostei”. Isso é apenas um espetáculo. É preciso postar sim o que for feito pela causa. Não um resgate, mas um trabalho que garanta sempre o resgate. Ou melhor, que seja suficiente para que nenhum animal precise de resgate. Uma ação de prevenção, de controle, de trabalho sem espetáculo. Portanto, vale a postagem da foto sim, desde que isso não seja um ato isolado. Desde que seja realmente apenas o registro de um momento de trabalho de verdade, constante, efetivo. Estamos de olho e vamos cobrar sempre. 



(Parceria publicitária: Moreno Pet Blog)


Marcos Moreno

Comunicador, colunista, criador da Coluna Amigo Animal e do Moreno Pet Blog. 

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