Marcos Moreno


As expressões que traduzem atitudes, fatos e tudo mais no cotidiano das pessoas vão sendo modificadas com o passar do tempo. Até mesmo as expressões mudam. Assim como a forma de entender e tratar os animais, que vem mudando pra melhor graças à conscientização das pessoas e muito mais graças ao que hoje conhecemos como “protetores independentes. O que significa essa expressão? É sobre pessoas que independentemente de estarem ligadas a alguma ONG de proteção animal ou a algum órgão governamental específico para isso (que cumpra realmente o seu papel), acolhem animais em situação de abandono, resgatam de maus tratos, socorrem por atropelamento, tratam e encaminham para novos lares. Isso nem sempre é possível e muitos vão ficando na casa de quem o acolheu pela primeira vez. Esses são os protetores independentes que fazem isso simplesmente porque amam animais e não suportam vê-los sofrer em qualquer dessas situações. Essa é a história da nutricionista Nádia Maria Mazeto. Vale a pena conferir. 


“Um dia um senhor me disse que o pior dinheiro gasto é com bicho e por que eu não gastava MEU dinheiro com criança e idosos? Perguntei a ele de quantas crianças e idosos ele cuidava e não obtive resposta.”



Marcos Moreno - Sei que você é uma protetora independente de animais. A pergunta é inevitável: porque e como começou a fazer esse trabalho voluntário? 

Nádia Mazeto - Sempre gostei muito de animais, desde menina me encantavam, mas não tinha autonomia, principalmente financeira para cuidados. Não me considero uma protetora de animais visto que não sou vegetariana, mais uma grande simpatizante da causa animal. 

Há quase 9 anos eu resgatei três gatinhos recém nascidos que corriam risco de vida. Não tinha experiência com resgates e muito menos com recém nascidos. Liguei para a Denise da Supra Ong e ela me orientou como fazer e disponibilizou as feirinhas de adoção para levá-los quando eles já pudessem comer. Doei dois e adotei um, que morreu há pouco tempo. A partir daí passei a ter curiosidade sobre Proteção Animal e comecei a ajudar nas feiras de adoção. Às vezes dou um freio nos resgates, mas nunca parei de ajudar. 



Marcos Moreno - Profissionalmente, qual é o seu trabalho?

Nádia Mazeto - Sou formada em Nutrição e me especializei na Área de Controle de Qualidade na Indústria de Alimentos. Gosto bastante dessa área. Faço check list de limpeza e organização, Manual de Boas Práticas das Empresas, Treinamento com colaboradores quanto a higiene pessoal e do ambiente de trabalho. Rotulagem nutricional de diversos grupos de alimentos. Controle de qualidade dos alimentos fabricados e vendidos. Essa área é um leque e dá pra trabalhar muito.



Marcos Moreno - Em seu trabalho voluntário de resgate, você tem apoio e/ou ajuda de parentes ou amigos? 

Nádia Mazeto - Eu já resgatei uma média de 300 animais, vários destinados a adoção, alguns morreram e outros ficaram comigo. Quando vejo que sairá do meu controle financeiro eu peço ajuda nas redes sociais, com vaquinha ou fazendo rifas. Mas sempre tenho que completar os valores. Hoje em dia está bem mais difícil obter ajuda e imagino que seja pela crise financeira que estamos vivendo. 

Agora quem mais me ajuda é a Paula e Dra. Juliana Meireles da Clínica Acaochego, levo os meus animais e resgatados lá há 9 anos e sempre me ajudaram muito, sem elas acho que não teria conseguido fazer a metade que faço.



Marcos Moreno - Qual animal é mais difícil de ser resgatado?

Nádia Mazeto - Entre cães e gatos os gatos são mais difíceis para resgate. Não por ser arisco, mas por serem desconfiados. Cães têm os dentes para você tomar cuidado e ter atenção. Gatos têm os dentes e as garras que são bastante afiadas, além da sua agilidade em escapar. Gatos demoram um pouco mais para ter confiança e se já sofreram maus tratos então pode levar dias ou até meses para confiar nos humanos. Agora os cães são bem mais tranquilos, salvo algumas exceções.


Marcos Moreno - Você deve colecionar histórias emocionantes no seu trabalho voluntário. Pode contar uma que tenha te marcado muito? 

Nádia Mazeto - Tenho sim, são muitas mesmo. Tem uma que cheguei a ficar uma semana chorando. Um dia passei numa rua aqui do bairro onde moro e vi um cachorro extremamente magro, eu não pude parar porque estava atrasada para um trabalho. Fiquei passando na porta que eu havia visto ele por dias e depois de uns 10 dias eu o vi novamente. Parei o carro e bati nas portas da vizinhança e soube que era de um rapaz de um ferro velho desativado. Bati no portão e veio o rapaz e três cães. Esse magro que se chama Mário, uma Pretinha que estava prenha na época e uma que se chamava Branca, meio mestiça de labrador. 

Consegui ajuda e levei os três para a Dra. Juliana. Fizeram exames e todos os três estavam com erliquiose, ou seja, doença do carrapato. A Pretinha prenha ficou, a veterinária  teve que fazer cesária porque havia um filhote já morto. Essa Pretinha uma outra protetora deu Lar temporário. O Mário e a Branca voltaram para o ferro velho. Tentamos fazer um canil para o Mário porque ele tinha cinomose, mas descobrimos que o ferro velho era uma fachada para venda de drogas e deixamos pra lá. Passei a ir duas vezes por dia até o portão dar alimentos e as medicações. Fazia uma papa de fígado, cenoura, beterraba e couve pra misturar na ração. Ficaram bem e gordinhos. 

Todos os dias quando ia alimentar e medicar a Branca queria muito entrar no carro, choramingava. Eu pedia ela para o rapaz e ele negava dizendo que “a Branca é minha vida, dou não”. Achava que a Branca era castrada por causa de uma história que ele e os vizinhos me contavam, mas um dia a Branca ficou prenha. O rapaz foi até minha casa dizendo que ela estava soltando um líquido preto pela vulva e chorando a dois dias sem parar. No outro dia levei à veterinária e os filhotes já estavam mortos. A tarde a Dra. Juliana me ligou dizendo da cirurgia e que não deveríamos devolver a Branca por que ela era estuprada. Fiquei extremamente arrasada. Lembrava dos seus olhos e choramingos pedindo Socorro quando ia levar os alimentos e medicamentos. Chorei mais de uma semana. Infelizmente a Branca morreu e eu não pude denunciar por que não tinha prova que era ele o estuprador. 


Marcos Moreno - Você tem algum projeto que gostaria de realizar para a causa animal? 

Nádia Mazeto - Gostaria muito de continuar um projeto que fizemos um tempo atrás de castração de gatos de colônias, acumuladores e pessoas carentes. Os gatos não são muito vistos ainda como animais que precisam de cuidados e atenção. Muitos acham que os gatos “se viram” e isso não é verdade. Paramos o projeto por questões pessoais de alguns do grupo, mas é um sonho voltar a fazer esse trabalho. Castramos mais de 200 felinos na época, foi um grande feito na causa animal. 


(Parceria publicitária: Sallon Pet)


Marcos Moreno - Na sua opinião, por que existem tantas diferenças entre protetores independentes de animais? 

Nádia Mazeto - Acredito que muitos querem ajudar, alguns tem prioridades diferentes um do outro, às vezes não têm tempo e dinheiro suficiente, alguns realmente querem o bem estar animal outros trabalham pelo ego. Muitos abandonam a causa. Quantas pessoas vi lutarem pelos animais e hoje se esconde e não quer mais esse rótulo de protetora. Pensamos que vamos salvar os animais e ficamos frustrados com tanta coisa ruim que acontece. As pessoas passam a te ver como alguém que “pega bicho na rua” e passa seu endereço e telefone pra todo mundo. Todos querem que você recolha animal das ruas e até mesmo o animal que ela não quer mais. No meu caso tenho família, casa e trabalho, não vivo por conta de resgatar animais e, fora o financeiro que fica bastante comprometido. Então a grande questão é o respeito às diversidades na causa, respeitar o que cada protetor pode fazer e se não faz bem pode ser por falta de conhecimento por que ninguém nasce protetor, você se torna. A diferença está no que cada um pode fazer e se não puder tudo bem também. 


(Parceria publicitária: Castelly Dog)


Marcos Moreno - Pode deixar uma mensagem? 

Nádia Mazeto - A minha mensagem é que cada um faça o que seu coração mandar. Faça o que puder e quando puder, mas nunca deixe de fazer por qualquer vida que é depende de cuidados e carinho. Um dia um senhor me disse que “o pior dinheiro gasto é com bicho e por quê eu não gastava MEU dinheiro com criança e idosos?” Perguntei a ele quantas crianças e idosos ele cuidava e não obtive resposta. Quando é assim não ajuda nada, mas gostam de falar como você deve ajudar. Não ligue pra isso, faça o que seu coração mandar. Faça, de coração, mas faça algo, se quiser fazer por uma criança faça por ela, se for por um idoso, faça com carinho também, e se for por um animal você também estará fazendo um grande feito por que todas as vidas valem a pena.Os animais foram criados pelo mesmo Deus que nos criou, eu creio. Então devemos ter respeito a toda criatura divina. Se não puder resgatar, ajude quem possa. Se não puder alimentar, ajude quem alimenta. Coloque água, custa pouco. Divulgue e peça ajuda se o animal tiver correndo risco de vida. Não maltrate. Denuncie. Se você não tiver dinheiro mas tiver amor doe. Só o amor salva!



(Parceria publicitária: Moreno Pet Blog)


Marcos Moreno

Comunicador, colunista, criador da Coluna Amigo Animal e do Moreno Pet Blog. 

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