Por Marcos Moreno
Servidora pública formada em enfermagem, Thaise de Oliveira Assis sempre teve um olhar legítimopara as questões que envolvem a causa animal. Na busca por socorro, resgate, lar e outroscuidados com os animais, não mediu esforços e assim se viu envolvida em várias frentes de trabalhovoluntário nesse segmento. Sua mãe, Gilda, técnica em enfermagem, também é servidora pública.Gilda sempre se incomodou com o descarte de lixo, seu destino e as consequências desse contexto.Conheceram Jurandir, simpatizante de ambas as causas e todos começaram a pensar em alguma forma deunir o útil ao super útil. Com vistas ao agradável, no caso o Meio Ambiente mais limpo, animais cuidadose trabalho pra muita gente. Assim, criaram o projeto Mais Dog – Menos Lixo. Trata-se de um projeto novoque consiste em arrecadar reciclados, podendo com isso conseguir e reverter os recursos adquiridos paraa castração de cães comunitários ou resgatados. Um trabalho difícil, ainda com resultados não tão expressivos,se pensarmos quantitativamente, mas que pode e pretende crescer e se tornar mais abrangente. Oblog procurou ouvir os idealizadores do projeto para tentar entender um pouco mais dessa iniciativa.
Marcos Moreno – Thaise, desde quando você tem esse olhar de empatiapelos animais?
Thaise de Oliveira Assis - Cresci em meio aos animais, mesmo morando nocentro de São Paulo. Meus pais sempre nos proporcionaram contato comvários bichos. Na minha casa existia cachorro, coelho, jabuti, pássaros,aquários entre outros diversos animais. Mas, sempre tive uma empatiamaior com os cachorros. Após algum tempo morando em Uberaba, tiveo prazer de conhecer a Alessandra Piagem do “Abrigo dos Anjos”, hojevereadora. Naquela época me envolvi em diversos eventos que faziampara arrecadação de dinheiro para manutenção da ONG. Desde então,meu envolvimento com resgastes e outras formas de ajuda aos animaisde rua só tem aumentado. Eu acredito que cada pessoa tem uma missão,uma dedicação e com certeza os animais são a minha! O sentimento deconseguir ajudar um serzinho de luz desses, não tem preço para mim.
Marcos Moreno – Gilda, o que mais a levou a realizar esse projeto?
Gilda Cardoso de Oliveira – Em primeiro lugar o incômodo enorme de vertodos os tipos de resíduos depositados para coleta no município de Uberaba,sem qualquer critério, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente,sem nenhuma preocupação com os gastos gerados para recolhere enterrar todo o lixo produzido diariamente, que hoje gira em torno de 350 toneladas. Juntando a grandepreocupação com a quantidade deanimais abandonados pelas ruasda cidade, sem nenhum tipo deprograma de castração ou assistência fornecidos pela administração pública do município.
Marcos Moreno – Jurandir, antesde iniciar esse projeto, no dia-adiao descarte de lixo chegava ate incomodar?
Jurandir César Beraldi – Muito. Afalta de consciência ambiental dapopulação de Uberaba é aterrorizante.Estamos em contato compessoas de todas as classes sociaise todas elas têm dificuldadeem separar os resíduos, o que élixo, material orgânico e o quepode ser reciclado. Incrível que,em pleno século XXI, com tantoacesso à informação as pessoasainda “jogam tudo fora”.
Marcos Moreno – Thaise, você éenfermeira e está cursando medicina veterinária. Qual foi sua primeira escolha?
Thaise de Oliveira Assis – A minhaprimeira escolha sempre foi amedicina veterinária. Porém, aindaera um curso de difícil acesso,mensalidades altas e períodointegral, que não me permitiatrabalhar. Consegui fazer Enfermagem através de bolsa integrale tenho muito orgulho da minhaprofissão e dos profissionais daárea que conheço. Mas, infelizmente é uma profissão extremamentedesvalorizada e sem oreconhecimento merecido. Optei por iniciar outro curso por essesmotivos e por entender que queroseguir o caminho dos animais.Hoje, as mensalidades estão maisacessíveis e existe o curso no período noturno, possibilitando aconciliação com minhas outrasatividades. Espero me formar econseguir ajudar mais animaiscom a minha profissão, sem desvalorizaros demais profissionais da medicina veterinária.
Marcos Moreno – Gilda, você seinspirou em algum trabalho quevocê já conhecia para pensar narealização desse projeto?
Gilda Cardoso de Oliveira – Não.Apesar de conhecer projetos querecolhem tampinhas plásticase lacres de alumínio, como formade renda para alguns tiposde causas, a minha preocupaçãocom o meio ambiente era que eunão enxergava esses atos visando100 % o meio ambiente. Na concepçãodo Mais Dog- Menos Lixopensei não somente em arrecadardinheiro, mas também recolhertudo que pode ser reciclado,evitando assim o aumento do volumedo aterro sanitário, a poluiçãodo meio ambiente, do efeitoestufa e a economia na quantidadede lixo que a prefeitura pagapara enterrar diariamente, nascastrações realizadas pagas integralmentepelo projeto e ainda, aumentar e melhorar as condições de trabalho das 54 famílias da COOPERUque tiram seu sustento dos reciclados.
Marcos Moreno– Jurandir, como é a rotina da sua atividade no projeto?
Jurandir César Beraldi – Minha rotina é coletar os materiais e ajudar aseparar. Tudo dentro da nossa disponibilidade de horários. Faço o trabalhode divulgação e ajudo na parte financeira com os gastos do projeto.Dividimos as despesas com panfletos, brindes e a locação do depósito.
Marcos Moreno – Thaise, você pode quantificar quantos animais já forambeneficiados por esse projeto?
Thaise de Oliveira Assis – O projeto existe há sete meses e até a metade domês de setembro castramos 33 animais, todos com dinheiro 100% arrecadadode reciclados, de materiais que estavam indo direto para o aterrosanitário! No início conseguíamos castrar dois cães ou gatos por mês,atualmente a média tem sido de dois animais por semana.
Marcos Moreno – Gilda, você percebe que as pessoas, de um modo geral,se preocupam com o descarte de lixo e entendem essa proposta?
Gilda Cardoso de Oliveira – No município de Uberaba, não há coleta seletiva,não há trabalho de conscientização da população em relação a isso.Pouco se sabe sobre reciclagem, muito menos se preocupam com o grandeimpacto que o descarte incorreto de resíduos causa ao meio ambiente.
Marcos Moreno – Jurandir, o que descartamos mais erroneamente nonosso dia-a-dia?
Jurandir César Beraldi – Vidros, 99% da população de Uberaba não sabeque vidro pode ser reciclado.
Marcos Moreno – Thaise, você tem parceria com alguma clínica ou veterinária? Pergunto porque os custos com animais não são baixos.
Thaise de Oliveira Assis – Sim, existem alguns profissionais na cidadeque entendem e auxiliam muito os protetores. Atualmente o veterinárioJosé Carlos, parceiro do nosso projeto é quem mais ajuda, noscasos de animais de resgate ou/e comunitários. Mas, sempre contei commuita ajuda financeira de familiares e amigos. E agora usamos 100 %da verba conseguida com a venda dos reciclados. Quando a intenção éboa tudo se ajeita e dá certo.
Marcos Moreno – Gilda, se esse projeto estivesse inserido no trabalho deuma ONG, que vantagens poderia ter?
Gilda Cardoso de Oliveira – Esse Projeto está com a documentação emandamento para se tornar uma ONG e com certeza fará toda a diferençaem relação ao meio ambiente, a causa animal, a economia e o desemprego. Um único movimento que gera uma corrente de benefícios enorme. Gostaria muito que os protetores individuais e ONGS se juntassem a nósem prol do bem comum. São coisas tão importantes para o planeta, quenão vejo razão para egos inflados ou uma certa concorrência. Precisamosunir forças sempre!
Marcos Moreno – Jurandir, já aconteceu de acharem alguma coisa de muitovalor descartada por descuido?
Jurandir César Beraldi – De muito valor não, mas encontramos inúmerosmateriais que poderiam ser reaproveitados, como por exemplo livros, vasos,brinquedos, panelas de alumínio e outros tipos de vasilhames.
Marcos Moreno – Thaise, dá pra ter uma noção do quanto uma castraçãopode evitar na multiplicação de cães de rua, por exemplo?
Thaise de Oliveira Assis – O cenário dos cães em situação de rua em Uberabaé extremamente precário. Recebemos muitos pedidos de ajuda decadelas que entram no cio e passam por situações deploráveis com osmachos buscando cruza, gerando briga entre eles e consequentementemachucados. Essa fêmea, se não for castrada irá parir nas ruas, os filhotes não conseguirão lares e acabam entrando no mesmo ciclo. Existeuma estimativa de que um casal de cães gera em média 12 filhotes ao ano,gerando em 10 anos o total médio de 80 mil animais. Fonte: http://www.celebridadeviralata.com.br/blog.
Marcos Moreno – Gilda, qual é a porcentagem de lixo que se recicla emUberaba? E no Brasil?
Gilda Cardoso de Oliveira – No município de Uberaba recicla-se algo emtorno de 5% dos resíduos produzidos. No país não é diferente, fica tambémem torno dessa porcentagem. É um absurdo quando comprovamosque a administração pública, de um modo geral, paga pra enterrar produtosque podem gerar renda que poderia ser usada para diversos fins.
Marcos Moreno – Quantas famílias se sustentam pelo trabalho comreciclagem de lixo em Uberaba?
Gilda Cardoso de Oliveira – São 54 famílias na Cooperativa local, maisinúmeros catadores independentes que rodam a cidade fazendo o serviçoque deveria ser obrigação da administração pública. Lembrandoque, nenhuma dessas pessoas recebe qualquer tipo de auxílio da administraçãopública.
Marcos Moreno – Thaise, Gilda e Jurandir, a separação de lixo prareciclagem, o projeto de castração de animais domésticos e outrosnesse sentido, são trabalhos que não é pra serem pensados agora.Já deveriam existir. Vocês acreditam que há ainda uma chance paraesse planeta?
Gilda Cardoso de Oliveira – Sim, a reciclagem como prevenção do meioambiente e ao mesmo tempo uma forma de gerar renda e empregospara à população, somando a isso, a castração de animais domésticoscomo preocupação de saúde pública na prevenção de zoonoses.Tudo isso já deveria fazer parte, há anos, de todas as esferas daadministração, seja ela pública ou privada. Acredito sim, que aindadá tempo de fazer girar esse círculo de coisas boas e a melhorforma será com um trabalho efetivo de educação e conscientizaçãoprincipalmente das crianças.
Thaise de Oliveira Assis – Verdade, já devíamos estar discutindo esses assuntoshá mais tempo. O Brasil especificamente está mais atrasado aindanesse sentido. Mas, acredito que estamos progredindo de maneira rápidade alguns anos para cá. A cobrança dos consumidores está aumentandoe as indústrias têm se adaptado a essa nova demanda. Acredito que aindahá chance sim, devemos focar nas novas gerações, a educação ambientalé necessária desde a base.
Jurandir César Beraldi – Apesar de toda mobilização, propagandas e divulgaçãopara que se cuide do meio ambiente, por ser cultural no país odescarte incorreto de resíduos, temos muito a caminhar.