Ricardo Almeida



A presença do plástico está cada vez mais intensa no nosso dia a dia e a grande preocupação dos especialistas se concentram no consumo excessivo e nas formas de descarte desse material. Uma pesquisa recente da Fundação Heinrich Böll, uma organização alemã sem fins lucrativos, analisou a presença e o crescimento do plástico no mundo. De acordo com o estudo, até o ano de 2025 a produção de plástico deve aumentar 50% em relação ao que se produz hoje, ou seja, serão mais de 600 milhões de toneladas de plástico produzidas anualmente. 

Pode parecer algo favorável do ponto de vista econômico ou mesmo na direção das tendências da modernidade, mas não é bem assim. O que se torna preocupante no movimento produtivo diz respeito ao avanço de até 13% no limite estimado de emissões de carbono na atmosfera (Acordo de Paris), além dos impactos cíclicos com a poluição de oceanos, rios e solos, derivados do descarte irregular.



O estudo dos plásticos realizado pela Fundação mostra que apesar da consciência popular de que o plástico é um material reciclável, ainda não é feita a destinação correta desses resíduos. A deficiência nos dispositivos legais, nas políticas educacionais e, sobretudo, nos hábitos de cada empresa e cidadão dificulta para que o processo seja realmente sustentável e respeitoso para com o meio ambiente. 

Atualmente, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking de maiores produtores de lixo plástico do mundo, ficando atrás de países como Estados Unidos, China e Índia. São mais de 11 milhões de toneladas descartadas por ano no Brasil, segundo a World Wildlife Fund (WWF), uma Organização Não Governamental internacional que atua nas áreas da conservação, investigação e recuperação ambiental. Estima-se que, em média, cada brasileiro produz um quilo de resíduos plásticos por semana, e as sacolinhas dominam esse cenário. O maior problema aqui é que apenas pouco mais de 1% é reciclado, enquanto mais de 10 milhões de toneladas são destinadas aos aterros sanitários ou ao lixo a céu aberto. 

A questão é conhecida por muitos, mas tratada por poucos. A verdade é que os sistemas de reciclagem existentes não dão conta desse enorme volume de material. O estudo revela que das mais de 9 bilhões de toneladas de plástico produzidas no mundo desde a década de 1950 menos de 1 bilhão foi reciclada. O plástico é um produto durável e leve, propriedades que o tornam ideal para uso na indústria. Hoje ele é muito utilizado como embalagens e compõe o grupo dos descartáveis caracterizados pelo uso de uma única vez e em um curto período de tempo. São bons pela resistência e maus pelo lento desfazimento.



Ocorre que uma quantidade cada vez maior de possibilidades de uso do plástico faz com que o produto ganhe escala de produção, a exemplo da construção civil, que utiliza plástico em revestimento de pisos, portas, janelas e tubulações. Por um lado, são bons por terem uma vida útil longa, são flexíveis e resistentes ao mofo e à corrosão, por outro, tornam-se uma ameaça preocupante quando abandonados no meio ambiente. 

Marcelo Montenegro, um dos coordenadores da Fundação Heinrich Böll, destaca o forte desvio de atenção patrocinado pelas corporações ao responsabilizar o indivíduo pela reciclagem, uma vez que enquanto esse holofote ganha a plateia, as mesmas corporações continuam investindo pesado no aumento da produção de plástico. 

O fato é que há necessidade de mudanças sobre o tema: mais efetividade das políticas públicas, mais soluções para não perder o controle na produção de plástico e mais investimentos nas condições de trabalho na reciclagem de resíduos. 

Como pode ser visto, entre tantos benefícios e preocupações envolvendo o plástico encontra-se uma peça-chave: o ser humano, dotado de racionalidade e emoções. Será que uma solução promissora para essa dicotomia não seria uma relação equilibrada entre as propriedades do plástico e a inteligência do homem?



Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.


* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Mulheres. O conteúdo é de total responsabilidade do autor. 


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