A busca pelo prazer em viver bem
Jornalista Isabel Minaré
Viver bem e encontrar refúgio em casa são desejos de muitos moradores. Entre paredes, portas, janelas e objetos pulsa vida. Com tantas mudanças no mundo, ocasionadas também pela pandemia, muitas tendências de design de interiores em 2021 vem sendo inspiradas no isolamento social, no home office e no conceito de morar bem. Existem novos estilos de habitar e de encontrar no lar a felicidade.
A covid-19 transformou a sociedade e a forma de ocupar os espaços. A tendência de ambientes integrados se fortaleceu neste último ano, especialmente as áreas gourmets que se destacam como o coração da casa, pois são mais funcionais e tornaram-se um espaço de integração, de comunhão da família. Outra grande vantagem dos ambientes integrados é que ao alterar as barreiras visuais, além de melhorar a circulação, tem-se a sensação de cômodos maiores e mais confortáveis. A conexão do interior com o exterior que nos permite a contemplação de uma vista através de janelas e portas de vidro também nos levam ao que estamos mais conectados atualmente – o bem estar. Afinal, muitas pessoas tiveram sua rotina totalmente alterada, passando mais tempo dentro de casa, tanto o período de trabalho quanto o de descanso e essa relação mais prazerosa com o espaço que habitam tornou-se essencial.
Projeto de Thais Curi destaca o conceito aberto. Foto - Régis Chaves - Casa Brasil
O conceito aberto, facilita a circulação e a integração. Projeto de Thais Curi. Foto - Régis Chaves - Casa Brasil
Um dos objetos mais usados nesse estilo é a cortina. A função dela vai muito além de embelezar as janelas e dar charme ao cômodo. Ela bloqueia a luz, o vento, além de dar privacidade e isolamento acústico, quando necessário. De acordo com a empresária Lídia Maria Costa Mattos, da Lídia Maria Decoração e Confecção, o tecido mais utilizado em cortinas para integrar ambientes é o linho. “Os tons mais usados são off-white, acinzentado e bege. Se a parede tiver sanca, uso trilho. Se não, utilizo o varão suíço, que é mais moderno e prático”, declara. “Se a cortina pegar sol, é interessante fazer a composição com forro, aliás, uma demanda muito comum”, completa.
O fim do excesso é outro quesito que paira sobre as tendências de consumo há alguns anos e ganha força em consequência da crise mundial de saúde. A ordem é focar no que importa, avaliando se o produto ou serviço consumido traz algum retorno positivo para o planeta ou para a sociedade. O uso de recursos naturais, como ventilação e iluminação se inserem como uma boa opção, pois, reduzem os gastos com energia elétrica.
Outra tendência que se fortaleceu este ano é a automação residencial. A facilidade de abrir e fechar cortinas por meio do celular, controlar a iluminação, desligar eletrodomésticos também auxilia na economia doméstica. E a automação se tornou bem mais acessível nos últimos anos. Se antes o custo da automação residencial girava em 40% do valor da obra, hoje gira em torno de 5%. Além disso ela pode ser feita gradativamente e com o tempo, também contribuirá com a redução dos gastos com energia.
E se a ordem é focar no custo/benefício na hora de construir ou reformar, a arquiteta Thaís Curi atenta para a importância de contratar profissionais especializados para avaliar o imóvel antes de realizar qualquer alteração nele, a fim de evitar gastos desnecessários e retrabalho advindos de obras mal planejadas. “É imprescindível analisar a estrutura da parede que deseja derrubar, pois ela pode conter pilares que não devem ser removidos”, observa.
Thaís chama a atenção para a necessidade da orientação profissional na hora de modificar as paredes. Foto - Ramon Magela
Mas, o conceito aberto, ainda que muito utilizado, em alguns casos passou a não ser a prioridade máxima. Isso porque avós, pais, filhos, genros, noras passaram a ocupar o mesmo metro quadrado na mesma hora. Foi preciso delimitar espaço por função e pessoa, a fim de evitar desordem e estresse. Cômodos foram criados, reformados ou ajustados. As paredes passaram a ter mais relevância. E o material utilizado em sua composição é diversificado. Não é só alvenaria, mas drywall (gesso), wood frame (madeira), entre outros. A partição também ajuda a evitar o alastramento de barulho. É o retorno do conceito fechado, que se tornou necessário para muitas famílias.
Para a empresária Gabriela Ramos, da Allure Decorações, esse conceito permite que os moradores ousem mais na hora de decorar. “Dá pra colocar cortinas e persianas, manuais ou motorizadas, com tecido blackout, por exemplo, porque vai escurar um local e não atrapalhar a claridade de outro”, afirma. “É possível dar mais personalidade aos cômodos com tapetes e papéis de paredes mais estampados e coloridos, que não vão cansar a visão por não ocupar todo o território”, complementa.
Para Gabriela, o conceito fechado permite maior inovação e independência ao decorar. Foto - arquivo pessoal
Após o trabalho dos profissionais, a casa ganha cada vez mais vida, não só com a presença dos moradores, mas com a personalização de cada espaço. A passagem do tempo, as viagens, a inclusão (e exclusão) de moradores, as mudanças de pensamentos e comportamentos contribuem para pessoalizar cada espacinho, seja com novos objetos decorativos, seja com a mudança de lugar dos móveis, seja com novas cores nas paredes, seja com a forma de encarar a arquitetura e o design. As pessoas se tornam íntimas dos espaços que habitam.
Casa de Pherla Fischer, com projeto de Luciano Martins, é transformada em lar com a identidade dos moradores. Foto - Régis Chaves - Casa Brasil
Quem fica mais tempo em casa quer o máximo de aconchego. Ele é poderoso em transformar o imóvel em refúgio, abrigo. É acolhimento, amparo. Um dos materiais mais potentes para proporcionar essas sensações é a madeira, versátil ao ser matéria-prima em todos os cômodos. Mesa, cadeira, sofá, estante, armário, guarda-roupa, cama, brinquedo, banco e outros móveis podem ser feitos com o elemento. Ele pode estar presente no chão, nas paredes e no teto para deixar os espaços com a percepção de tranquilidade, paz e equilíbrio. O componente remete à natureza, com lembranças de árvores, folhas e muito verde. Até o cheiro vem à mente! O empresário Jurandir Costa Sousa, da Madeireira Norte Minas, afirma que os produtos confeccionados com a sustância têm bastante procura, principalmente pela alta durabilidade. “Os móveis de madeira são conhecidos por durar a vida toda. Além disso, são muito bonitos e chamam a atenção”, assegura.
Aconchego é sinônimo de conforto, outra necessidade estridente, sobretudo ao ficar muito tempo num mesmo local. O conforto vai muito além de um sofá onde caiba toda a família ou uma cadeira ergométrica para trabalhar. Ele precisa fazer parte da própria construção de uma casa, de modo que os moradores possam se sentir protegidos ao possuírem o máximo de comodidade dentro dos ambientes. Existem diversos tipos de conforto: acústico (ninguém precisa ouvir o barulho da rua ou do quarto ao lado, se não quiser), térmico (harmonia de sensações de frio e calor), estético (equilíbrio de gostos dos moradores), modular (lar se adequa às múltiplas rotinas e fases de vida), entre outros. A estabilidade dos fatores que causa o bem-estar físico.
Com qualquer arquitetura e mobiliário, o importante mesmo é ter prazer em morar encontrando em cada pedacinho do imóvel a própria identidade. Não é só repetir tendências e inspirações, mas transmitir gostos, interesses e traços marcantes dos habitantes. As casas se tornam úteis e especiais através dos sentidos que assumem na vida de cada um. Os imóveis contam histórias e são marcos nas vivências de cada pessoa.