Ricardo Almeida


Raios 


Acredita-se que, há bilhões de anos, os relâmpagos já estavam presentes na geração de moléculas que deram origem à vida na Terra. Com tempestades mais carregadas de eletricidade, presume-se que naquela época havia mais relâmpagos (e em maior intensidade) que nos dias atuais. Uma situação que pode ser comparada à que existe hoje em Júpiter. 

A história dos raios e dos trovões vem de longa data e faz parte dos mitos das antigas civilizações, quando eram entendidos como manifestações divinas. Os antigos gregos consideravam os raios como uma forma de castigo aos pecadores. Eles acreditavam que os raios eram produzidos por criaturas de um só olho (ciclopes) e lançados por Zeus, o rei dos deuses, sobre os homens arrogantes. Entre os nórdicos (povos medievais dos países escandinavos, hoje região de países como Suécia, Noruega, Finlândia, Islândia e Dinamarca), Thor era o deus do trovão e os raios podiam ser vistos quando ele arremessava seu martelo. 

Amuletos e proteção contra os raios também têm origens distantes. Acreditava-se na existência de árvores que atraíam e outras que repeliam os raios. Com isso, o carvalho, uma árvore de grande porte, tornou-se um símbolo de poder e era visto como um protetor imponente, uma vez que ele atraía e era atingido constantemente por raios. O loureiro, um arbusto da região Mediterrânea, era uma espécie de amuleto usado pelos imperadores romanos. O mito era de que os ramos e folhagens do loureiro protegiam os generais contra a ira dos deuses da tempestade, que os invejavam pelas vitórias de seus exércitos.



Ao longo do tempo, os mitos ainda permanecem, mas em outro patamar de crença. Um deles transita em perguntas como: os espelhos atraem raios? A resposta é dada pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que afirma não haver necessidade de cobrir os espelhos durante uma tempestade. Portanto é uma crença que não se estabelece como uma verdade, embora essa crença tenha surgido em uma época que grandes espelhos recebiam moldura metálica, tornando-se um forte atrativo de raios. 



Outra crença popular incide na ideia de que um raio nunca cai no mesmo lugar. Sobre isso, especialistas afirmam que a informação não procede. Uma prova literalmente concreta disso refere-se ao Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, que é atingido por cerca de seis raios todos os anos. Geralmente os raios caem mais de uma vez no mesmo lugar quando este ambiente ou região apresenta grande incidência de raios. 

Mas, afinal, o que é um raio? De acordo com o INPE, os raios são descargas elétricas de grande intensidade que conectam o solo e as nuvens de tempestade na atmosfera. A intensidade típica de um raio equivale a aproximadamente mil vezes a intensidade de um chuveiro elétrico, ou seja, 30 mil Ampères. A descarga de um raio pode percorrer distâncias da ordem de 5 km e, em média, os raios têm a duração de até dois segundos, mas geralmente duram apenas frações de milésimos de segundos. Assim, embora a potência de um raio seja grande, sua curta duração faz com que a energia seja pequena, algo em torno de 300 kWh (quilowatt-hora), o equivalente ao consumo mensal de energia de uma casa pequena. 

Por ser um fenômeno tão conhecido e ao mesmo tempo tão misterioso para grande parte da população, algumas curiosidades sobre os raios foram destacadas pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica do INPE, conhecido como ELAT, que foi o primeiro grupo de pesquisa sobre raios criado no Brasil. É considerado uma referência mundial nas pesquisas sobre eletricidade atmosférica.

Veja as perguntas mais frequentes sobre raios e as respostas dos especialistas: 


1 - Qual a diferença entre relâmpagos e raios? 

Relâmpagos são todas as descargas elétricas geradas por nuvens de tempestades, que se conectam ou não ao solo. Já os raios são somente as descargas que se conectam ao solo. 


2 - Por que o Brasil é o país campeão mundial em incidência de raios? 

No Brasil, caem 77.8 milhões de raios por ano e a explicação é geográfica: é o maior país da zona tropical do planeta - área central onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades e de raios. 


3 - Qual o local com maior incidência de raios no Brasil?

A região entre Coari e Manaus é a região que mais tem raios do Brasil. A região amazônica deverá ter um aumento na incidência do fenômeno nas próximas décadas. 


4 - As cidades influenciam a ocorrência de raios? 

Pesquisas já indicaram visíveis aumentos de incidência de raios em áreas urbanas. Essa maior incidência de raios está relacionada ao aumento de temperatura (fenômeno conhecido como ilha de calor) e de poluição nos centros urbanos. 


5 - Como saber se o raio caiu perto? 

A luz produzida pelo raio chega quase instantaneamente à visão de quem o observa. Já o som (trovão) demora um bom tempo, pois a sua velocidade é menor. Para obter a distância aproximada da queda do raio, em quilômetros, basta contar o tempo (em segundos) entre o momento em que se vê o raio e se escuta o trovão e dividir por três. 


6 - Se uma pessoa for atingida por um raio, o que pode acontecer? 

A corrente do raio pode causar queimaduras e outros danos a diversas partes do corpo. A maioria das mortes de pessoas atingidas por raio é causada por parada cardíaca e respiratória. Pessoas que, de alguma forma, passam pela experiência de ser atingido por um raio podem ficar com sequelas orgânicas e psicológicas. 


Como pode ser observado, além de proporcionar esclarecimentos à população, as pesquisas que envolvem fenômenos naturais, como raios e trovões, têm um papel importante no desenvolvimento da Ciência. Muitos temas que compõem a produção científica, entre eles a Eletrodinâmica Atmosférica, resultam em benefícios relevantes para a sociedade, seja a curto prazo, com desenvolvimento de tecnologias de ponta, seja a longo prazo, com a formação de profissionais dos mais variados campos do saber.


Ricardo Almeida

Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental. 


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