A tecnologia revoluciona a análise de dados, mas enfrenta desafios éticos e sociais.


Jornalista Daniela Brito


No cenário atual, a Inteligência Artificial (IA) emerge como uma força inegável, moldando diversas esferas da sociedade e da economia global. Desde a automação de tarefas rotineiras até a personalização de experiências digitais, a IA está redefinindo a forma como interagimos com o mundo ao nosso redor. 

Em setores como saúde, finanças e educação, a IA está impulsionando avanços significativos. Na medicina, por exemplo, algoritmos de IA estão sendo utilizados para diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficazes, salvando vidas e reduzindo custos médicos. No campo financeiro, a IA está revolucionando a análise de dados, proporcionando insights valiosos para investidores e instituições financeiras. 

Entretanto, à medida que abraçamos o potencial da IA, também enfrentamos desafios éticos e sociais. Questões relacionadas à privacidade, segurança e viés algorítmico estão sendo debatidas intensamente. No entanto, à medida que navegamos nesse território desconhecido, também encontramos oportunidades sem precedentes para impulsionar a inovação e promover um futuro mais inclusivo e sustentável.



O futuro chegou! Até uma reportagem pode ser redigida pela Inteligência Artificial. Um exemplo é o texto que deu início a esta matéria. 

Uma ferramenta extremamente útil, desde que utilizada para o bem comum. O conceito foi introduzido em 1956 pelo cientista da computação John McCarthy durante uma conferência no Dartmouth College, nos EUA. No entanto, este tipo de inovação tecnológica vinha sendo estudada desde 1940. 

A IA é um campo da ciência da computação que se concentra no desenvolvimento de sistemas e algoritmos capazes de realizar ações que requerem inteligência humana. Estas ações envolvem aprendizado, raciocínio, resolução de problemas, reconhecimento de padrões, compreensão da linguagem natural e tomada de decisões. Estes sistemas aprendem com dados, adaptam-se a novas situações e realizam tarefas de forma autônoma, sem intervenção humana direta. O resultado é alcançado por meio de técnicas que utilizam-se de redes neurais artificiais, processamento de linguagem natural e algoritmos de otimização. Com isso, a IA tem aplicabilidade em uma gama de setores, incluindo saúde, finanças, transporte, manufatura, entretenimento entre outros, e está se tornando cada vez mais presente em nossa vida cotidiana. 

John-McCarthy 1927 -2011. 
Pioneiro Inteligência da Artificial


De acordo com o professor José Ricardo Gonçalves Manzan, licenciado em Matemática, Especialista em Matemática e Estatística, Mestre e Doutor em Engenharia Elétrica com área de pesquisa voltada para Redes Neurais Artificiais e Algoritmos Genéticos, a IA desenvolve funcionalidades que antes só podiam ser realizadas por humanos trazendo inúmeros benefícios como redução de custos em diversos setores, preservação do meio ambiente, previsão de eventos que possam causar desastres naturais, apoio ao diagnóstico médico, aumento na produção de alimentos, aprimoramento de sistemas de segurança e várias atividades que podem beneficiar a sociedade como um todo. Por outro lado, a IA pode também ter um lado sombrio. Isso porque a regulação sobre quem, como e em que as técnicas são aplicadas ainda não estão efetivamente reguladas. Esta regulação visa garantir sua segurança, transparência e conformidade ética. Segundo o professor, a União Europeia tem discutido muito o assunto estando inclusive muito à frente do Brasil. E, mesmo assim, ainda não conseguiu estabelecer formas eficientes de acompanhamento dessas transformações e dos seus impactos na vida das pessoas.

Um dos grandes riscos é a detenção das tecnologias por grandes empresas, sobretudo aquelas com alto poder de influência na vida das pessoas, como por exemplo nas redes sociais, sem a devida regulação. “De um modo geral, seja no âmbito privado ou governamental, a detenção dessas técnicas e de um grande volume de dados, sem mecanismos eficientes de controle, pode causar diversos impactos na vida das pessoas”, diz Manzan. Outro risco é quanto às técnicas aliadas aos equipamentos cada vez mais tecnológicos que ocupam a mão de obra de diversas pessoas, sobretudo daquelas com menor escolaridade e outro problema é sem dúvida em relação à manipulação de dados, sobretudo de imagens, para diversos fins que ferem aspectos legais, morais e éticos.

José Ricardo Manzan reconhece os inúmeros benefícios da IA, mas alerta para o lado sombrio desta tecnologia.


Há casos de manipulação de imagens de pessoas reais, na sua maioria, mulheres, inseridas em perfis artificiais nas redes sociais com propósitos financeiros. Dois exemplos ocorreram na rede Only Fans onde perfis artificiais rendem aos desenvolvedores, muito dinheiro pela venda de imagens geradas artificialmente. Outro exemplo é colocar o rosto da vítima em uma imagem com conteúdo de pornografia e, em seguida, os autores submetê-la a chantagens como o pagamento sob ameaça de publicizar o conteúdo falso. Também há casos em que pessoas famosas são vítimas desses criminosos em redes sociais que fazem monetização por engajamento. 

Além disso, há a preocupação da IA substituir a força humana. Isso já vem acontecendo em diversos setores da cadeia produtiva, como na agropecuária, onde alguns equipamentos que já estão disponíveis no campo. Isso também acontece na indústria e até no comércio. A Amazon, por exemplo, já tem lojas pelo mundo, capazes de realizar reconhecimento facial, e a partir de várias câmeras saber exatamente o que cada cliente insere ou retira da cesta de compras e de lançar o valor na fatura do cartão de crédito. Estas lojas têm funcionários apenas para a reposição de mercadorias. 

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Uberaba, o advogado Eduardo Jardim, diz que a IA está se tornando mais do que uma simples ferramenta facilitadora do cotidiano, mas aos poucos está ajudando a prever o futuro. “E isso pode ser um grande diferencial no trabalho de uma advogada ou um advogado, especialmente os profissionais especializados em Direito”, afirma. No mundo jurídico, segundo ele, a IA vem realizando a análise preliminar dos resultados de processos onde a ferramenta leva em conta como determinado tribunal vem decidindo o que facilita uma melhor condução do caso. Nesse sentido, Eduardo Jardim diz que o profissional da advocacia pode avaliar a melhor conduta a adotar. “Mas jamais substituirá a advocacia”, diz o dirigente classista. Por outro lado, ele também diz que a ferramenta deve respeitar os princípios éticos e legais. Para isso, a necessidade de regularização “Cada Conselho da OAB terá de regular a utilização e a forma de reprimenda pela má utilização da IA”, defende.

Para Eduardo Jardim a IA vai além de facilitar o cotidiano, aos poucos vai ajudando a prever o futuro.


Na comunicação não é diferente. “Estamos em alerta com essa nova realidade”, avalia a jornalista Indiara Ferreira, pós-graduada em Arte e Criatividade e também em Processos Criativos e Tecnologias Midiáticas, mestre em Educação, com ênfase em EduComunicação. Segundo ela, o uso da IA envolve questões complexas de privacidade, de ética e de risco de segurança. A profissional também avalia que a ferramenta não atinge a subjetividade em seu uso pela sociedade. “É possível que tenhamos falta de criatividade, de pensamento crítico e até de intuição para a tomada de decisões”, pontua citando como exemplo as habilidades sociais e das conexões humanas. Para ela, a IA é interessante para os profissionais da comunicação pois permite a produção de conteúdo com agilidade, como “num passe de mágica”. Outro ponto favorável é a velocidade das pesquisas e a capacidade de análise dos dados. Há ainda a automatização de envios, a revisão ortográfica, a geração eficiente de relatórios e a automatização de tarefas rotineiras. 

No audiovisual, as possibilidades são imensas, com a IA, em especial, na criação de artes e vídeos, com os geradores de voz e de imagens realistas. Indiara Ferreira acrescenta que a responsabilidade pela veracidade dos dados publicados é sempre de quem assina o material. “De fato, estamos mais livres para dedicar tempo para pesquisar e tornar nossos conteúdos mais interessantes, por exemplo”, comenta. 

A professora e pesquisadora da área, Joan Donavan, da Universidade de Boston, explica que toda a análise realizada pela Inteligência Artificial, foi alimentada, criada e treinada por humanos. Segundo ela, nós direcionamos a IA e vamos tornando essa tecnologia nossa realidade, ou seja, o protagonismo da tecnologia é do humano. Ainda diz que a IA se tornará o que nós permitirmos por que precisa ser alimentada por nós. “Concordo com a professora Joan e vamos em frente”, finaliza Indiara Ferreira.

Indiara Ferreira afirma que o uso de IA envolve questões complexas de privacidade, de ética e de risco de segurança