Candidatas precisam se capacitar para atuar politicamente 

Jornalista Juba Maria 


A capacitação de mulheres para entrar na política é coisa séria. Que o digam as mulheres que atuam ou desejam atuar politicamente em Uberaba. Afinal, vivemos em um contexto em que os partidos não estão fazendo esse trabalho. Por isso, nós entrevistamos as vereadoras Rochelle Gutierrez (PP) e Luciene Fachinelli (PSL) para falar exclusivamente sobre educação política. Conversamos também com a Karin Vervuurt, uma das idealizadoras de um dos projetos de maior destaque na formação política de mulheres no Brasil: o Elas no Poder. 

O Elas no Poder começou em 2018, quando as sócias e amigas Karin Vervuurt e Letícia Medeiros fundaram uma empresa de pesquisas e consultoria política em Brasília. Ao entrar nesse meio, elas perceberam que as mulheres não tinham espaço para obter recursos para as suas campanhas. Somente candidatos homens, em sua maioria brancos e com conexões dentro de seus partidos, conseguiam acesso à serviços de inteligência de campanha eleitoral. “A gente percebeu que isso acontecia porque as candidatas mulheres não tinham dinheiro e o Elas no Poder nasceu da vontade de ajudar as candidatas mulheres de forma gratuita”, disse. 


Karin Vervuut, socióloga, mestre em ciência política e cofundadora do #ElasNoPoder


Letícia Medeiros


Os obstáculos por que passam as mulheres para a formação política é algo que Rochelle Gutierrez (PP) conhece de perto. Ela conta que sua militância política começou em um projeto de educação política. “Ali foi o início da minha formação política, pois foi onde aprendi sobre competências, função do legislativo, executivo entre demais aspectos, depois disso sempre me preocupei em estudar sobre as causas que lutava, seja no movimento estudantil, movimento de juventude ou partidários”, revelou. 

Depois disso, Rochelle se engajou em movimentos da sociedade civil como a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) e o RenovaBR, esse último, um grupo que se apresenta como uma escola de formação política, que prepara pessoas comuns de diversas origens e ideologias para renovar a democracia brasileira. “Acredito que qualquer pessoa que se proponha a estar na vida política tem que estar preocupada com a sua formação”, disse. Luciano Huck está entre os membros do Conselho Consultivo do RenovaBR. 


Rochelle Gutierrez


Para Luciene Fachinelli (PSL), a formação política se deu na lide diária em seus 33 anos de atuação junto ao executivo municipal e outros seis anos de experiência no legislativo. “Experimentando e entendendo as pluralidades dos poderes e da população”, explica. Apesar disso, reconhece a importância da formação para vencer as barreiras e preconceitos. “Precisamos buscar formações acadêmicas para o conhecimento que garanta essa busca pelos direitos adquiridos, para que não haja retrocesso no que já conquistamos ao longo de muitos anos de luta”, contou. Porém, segundo ela, tão importante quanto a formação é o despertar, a vontade de participar politicamente do dia a dia da cidade. 

Para estimular esse despertar, Luciane planeja desenvolver, junto à TV Câmara, um projeto de estímulo à participação cidadã. “As mulheres precisam se valorizar mais e não se submeter a candidaturas laranjas, candidaturas fantasmas, pois muitos partidos políticos querem simplesmente preencher a quota de gênero para viabilizar as chapas proporcionais”, disse.


Luciene Fachinelli


Karin Vervuurt conta que, em 2019, o Elas no Poder formou mais de 1.500 mulheres entre 2019 e 2020. Depois, com a inauguração da plataforma Impulsa, a organização ajudou mais de 30 mil campanhas em todo o Brasil, de candidatas que acessaram os cursos e os conteúdos.  “A gente conseguiu ajudar a eleger 45 mulheres em 2020”, disse. “Tudo isso ajuda bastante as mulheres a tomarem a decisão de se candidatarem e fazerem campanhas melhores e mais competitivas”, explicou.

Rochelle reconhece que a participação de mulheres na política pode, em alguns casos, não representar avanços e sim retrocessos. Isso acontece, segundo ela, porque o aumento da participação das mulheres na política tem suas contradições, assim como a sociedade. “Por isso é importante votarmos e termos mulheres comprometidas com as causas femininas,” disse. 

Na perspectiva de Karin, as mulheres conservadoras que atuam na política representam uma parcela do eleitorado brasileiro que é considerável, porque o Brasil é um país conservador. “É claro que existem casos de mulheres, que se elegem e depois acabam adotando pautas que atrapalham e representam um retrocesso, mas mesmo assim, é interessante que elas estejam nesses espaços extremamente machistas e violentos com as mulheres para que elas enxerguem essas coisas acontecendo e reflitam sobre como a estrutura funciona e qual é o papel delas ali dentro”, analisa. Na visão da socióloga e mestre em ciência política pela Universidade de Brasília, é fundamental termos candidatas que representem a variedade de opiniões que temos na população. “Há diversos grupos sociais que não estão sendo representados nos espaços e isso gera políticas públicas que não funcionam”, disse. 

Para as mulheres de Uberaba, que desejam ingressar na política, Karin recomenda encontrar a melhor maneira de falar em suas pautas sem entrar no maniqueísmo. “Estamos precisando de um caminho de políticas públicas mais baseadas em evidências, dados e pesquisas”, disse. “Mas tudo isso depende da candidata”, disse. Além do trabalho realizado pelo Ela Pode, Karin recomenda outros cursos de formação sobre campanhas eleitorais e atuação de mulheres na política como o @vamosjuntasnapolitivca, @votenelas, @institutoupdate e @institutoalziras. 

Rochelle também revelou seu desejo de criar uma escola de cidadania para mulheres. O projeto, segundo ela, foi adiado por conta da pandemia. O objetivo é ter formação cidadã para preparar mais mulheres para participar da política. “Para mim, o empoderamento feminino passa pelo conhecimento”, disse. “Na política, as mulheres têm sempre que reafirmar seu conhecimento. Quando a formação é falha, isso faz com que as mulheres se submetam a situações absurdas, como, por exemplo, candidaturas laranjas”, contou. Ela aposta em cursos com uma formação preocupada também com o emocional. “Precisamos também de uma formação que passe por lições de real política”, concluiu. 

Já Luciene, convoca as mulheres da cidade para lutarem ao seu lado. Ao se envolver em políticas partidárias para buscar uma representatividade, seja no Poder Executivo ou no Poder Legislativo, ela recomenda que as mulheres façam primeiro por amor à causa, que conheçam sua cidade e participem efetivamente da vida de suas comunidades para saberem onde estão os maiores gargalhos. “As que acreditam na política como ferramenta de transformação e não têm condições de se prepararem através de instituições de ensino, podem buscar conhecimento junto aos grupos políticos partidários, rodas de conversa, reuniões com grupos e lideranças de bairros, trabalhos comunitários, grupos de estudos e formações continuadas. E o mais importante, quando despertadas e orientadas, serem fontes de inspiração para que, cada vez mais, tenhamos mulheres na política e que um dos eixos mais importantes a serem discutidos sejam POLÍTICAS PARA MULHERES”, concluiu.


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