Marcos Moreno


O galo que matou seu dono 

Viralizou nas redes sociais a história do “galo que matou o seu dono”. Para quem não viu, o fato aconteceu na Índia e é mais ou menos assim: o dono de um galo de briga havia amarrado navalhas em suas pernas para que a derrota ao oponente fosse mais contundente e cruel. Acidentalmente a perna do galo passou na virilha do dono, que morreu esgotado. Bem, agora vamos a outro cenário.


No Brasil 

Neste mês de março, mais precisamente no próximo dia 14, comemora-se o Dia Nacional dos Animais.  Pois é, data que deveria ser comemorada com números e notícias animadoras, só que não. Sim, projetos se transformaram em leis criminalizando os maus tratos a animais. Mas essas leis não são levadas ao fim e ao cabo. Projetos de ação de órgãos responsáveis lotam gavetas e de lá não saem.  Como sou comunicador e uso vários espaços para falar de alguma maneira sobre a causa animal, recebo diariamente pedidos de socorro para animais abandonados e/ou vítimas de maus tratos. Fico sabendo, mas não consegui ainda ver, efetivamente, o cumprimento dessa lei. Talvez seja apenas por aqui, não sei. As vítimas estão nas vias públicas, ou até mesmo acreditando que estejam protegidas em marquises de prédios comerciais, como foi o caso da cadela Manchinha, brutalmente assassinada por funcionários terceirizados do Carrefour. Manchinha virou heroína pelo sofrimento e abate que sofreu nas mãos desses cruéis seres. É uma “estrelinha” agora, na linguagem usada pelos amantes de cães. O Carrefour se redimiu por motivos óbvios ($) criando (ou pelo menos noticiando) várias ações pela causa animal. Pouco depois as pessoas normais deste país se viram estarrecidas com outra barbaridade: a tortura sofrida pelo cão da raça Pitbull, que foi agredido, amordaçado com arame farpado no focinho e teve suas patas traseiras decepadas. Digo “pessoas normais” porque me recuso a acreditar na “normalidade” de quem faz uma coisa dessas. A partir desse fato horroroso uma lei foi modificada com o intuito de punir mais severamente esses crimes bárbaros, a Lei Sansão. 


Manchinha foi brutalmente assassinada por funcionários terceirizados do Carrefour


Pitbull foi agredido, amordaçado com arame farpado no focinho e teve suas patas traseiras decepadas


Na real 

Ainda bem que existe agora essa lei, mas na real, qual é o preparo para que ela seja cumprida? Manchinha e Sansão são dois símbolos dessa luta triste de poucos para defender muitos que sequer sabem que têm direito à vida. Qual é o nível de consciência das pessoas que abandonam animais (filhotes, machucados, com fome, etc)?  Além do abandono, ainda existe (muito mais do que se imagina) esportes que chegam ao ponto de treinar animais para se aniquilarem uns aos outros, como as rinhas de galo e de cães, por exemplo. Nunca soube de incidente por aqui como o que aconteceu na Índia, mas rinhas de galo existem aos milhares.  E as vaquejadas, que fazem o público vibrar de alegria vendo a tortura de um bezerro? E a caça? Tá tudo bem, obrigado? Quantas pessoas a gente conhece que se gaba de ter matado uma onça em sua propriedade? Isso por aqui, nas nossas redondezas. Não dá pra imaginar a dimensão de tudo isto. Coitados dos animais que nem sabem que o humano resolveu dar a eles uma data nacional para comemorar o seu dia. Então, quando tenho conhecimento de um “galo que matou seu dono”, seja aqui ou na Índia, imagino que os animais poderiam instituir esse como o seu Dia Nacional ... ou melhor, Dia Internacional. 


(Parceiro publicitário: Moreno Pet Blog)


O óbvio 

Em toda e qualquer questão que envolva o comportamento humano, seja dele diante de seu semelhante, seja dele diante de um animal, o objetivo é a conscientização plena de direitos e deveres. De respeito à vida.  Mas pela própria singularidade de cada ser humano, regras devem existir. Responsabilidades devem existir. Em que instância se decide sobre a caça no Brasil? Quem cobra a fiscalização para a proibição de rinhas de galo e cães? De que esfera é a responsabilidade pelo controle populacional de animais errantes em comunidades? Que dia vamos poder, junto com os animais, comemorar de fato o “Dia Nacional dos Animais”?


Marcos Moreno

Comunicador, colunista, criador da Coluna Amigo Animal e do Moreno Pet Blog. Siga o Marcos no InstagramFacebook e/ ou lhe envie um e-mail (kiktiomoreno@terra.com.br).


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