40 anos de talento e diversidade cultural

Jornalista Isabel Minaré 

Fotos: Paulo Lúcio

 

Ingrid, Cidinha e Fátima na sede histórica no centro da cidade


A Associação Uberabense dos Artesãos e Artistas completou quarenta anos de luta e atuação neste ano. Com três unidades e cerca de 50 associados, ela expõe o talento, a competência e a originalidade de Uberaba para o mundo. 

A entidade sem fins lucrativos foi criada em decorrência do progresso do artesanato na cidade. De início, a atividade era solitária, feita e vendida em cantinhos e fundos de quintais. Com o tempo, ela se fortaleceu e os profissionais sentiram a necessidade de ter um espaço propício e atraente para a exposição e o comércio em grupo.

 


As pinturas chamam atenção pela beleza e perfeccionismo
A instituição foi fundada em 30 de abril de 1981 por um grupo formado apenas por mulheres: Alencarina Wehbe, Barrige Helena Idaló, Célia Rachid, Cláudia de Oliveira, Eliana Mendes, Eliana Vilela, Iracema Curi, Lusa Andrade, Maria Celinéia de Freitas, Maria Cristina Pena Ribeiro, Maria Délia Andrade, Maria Helena Ciriani, Maria Ivani Bessa, Maria Raquel Machado, Marlene Barone, Myrtis Bruno, Paula Virgínia Salge, Sílvia Regina Turpelli e Maria Aparecida Rufino. O objetivo é o mesmo até hoje: apoiar, incentivar, promover e oferecer suporte técnico aos artesãos. O trabalho deu tão certo que chamou a atenção de representantes das artes plásticas, esculturas e outras áreas, que manifestaram o desejo de fazer parte dela. Assim surgiu a Associação Uberabense dos Artesãos e Artistas, com nome fantasia (e mais popular) Casa do Artesão.

A princípio, uma contradição. “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada.” Como no poema ‘A casa’, de Vinícius de Morais, não havia chão, parede, penico. A casa existia só no nome, pois a associação não tinha sede. O recurso encontrado foi realizar exposições em lojas parceiras e ficar, de forma temporária, na residência da presidente, na rua Alexandre Campos, nº 185, como foi na gestão de Alencarina Wehbe. Mas a necessidade de um espaço fixo e acessível a moradores e turistas era evidente. As obras precisavam ser agregadas e ganhar notabilidade em local oportuno. Depois de muitos anos, no governo do prefeito Silvério Cartafina, veio a sede própria (em comodato, cedida pela prefeitura). A partir disso, uma pessoa se tornou atuante nessa causa associativista: a ex-primeira-dama Teresinha Cartafina. “A Casa do Artesão significa, não só para mim, mas como para todo o Brasil, o que Uberaba tem de melhor: a alta capacidade de artistas e artesãos. Temos profissionais conhecidos no mundo todo”, orgulha-se Terezinha, considerada a madrinha da Casa.  

 

Associação apresenta grande variedade de peças


Mais uma incoerência: a Casa andava. Rss. Ela mudou bastante de endereço, no entanto sempre na região central. A primeira foi localizada na avenida Capitão Manoel Prata. Em seguida, passou para a rua Segismundo Mendes, nº 37; praça Santa Terezinha; rua Alaor Prata, nº 174; e, finalmente, se estabeleceu na rua Senador Pena, nº 352. 

O imóvel, por si só, já é uma obra de arte. Ele foi erguido em 1932 pelo engenheiro e arquiteto espanhol André Fernandes a pedido do fazendeiro Joaquim Alves Teixeira, personalidade decisiva para a consolidação de Uberaba como a capital mundial do zebu. A casa é de estilo eclético, como um chalé. Ela foi comprada pela prefeitura, que a tornou sede da Casa do Artesão e Associação de Mulheres Rurais de Uberaba (Amur) em 21 de setembro de 2008. Foi tombada pelo decreto 3.600 devido à importância cultural.


Doces e licores representam o sabor mineiro


A propriedade é fantástica tanto por fora, pela arquitetura, quanto por dentro, pelas peças dos artesãos, localizadas no segundo andar. E quanta variedade! São diversas salas com tecidos, cerâmicas, madeiras, teares, biscuits, crochês, macramês, mandalas, imagens, gessos, enxovais de bebê, licores, doces, telas, esculturas, ... “Quando uma pessoa deseja se associar, seu trabalho passa por uma consultoria interna, na qual analisamos a qualidade dele. A única exigência é que seja produzido manualmente, sem qualquer interferência industrial”, explica a presidente Fátima Penha.


Fátima já participou de diversas exposições que levaram o nome de Uberaba Brasil afora


Para se manter, a Casa do Artesão vive de mensalidade dos 48 associados e porcentagem de vendas. “Conforme a época, esse valor não supre as necessidades, pois temos funcionária, contador e despesas com energia, telefone, entre outras. Por isso, fazemos e participamos de eventos para angariar fundos”, explica a secretária Ingrid Seitz, considerada a colaboradora a mais antiga, com 35 anos de devoção. “Já faço parte do acervo”, brinca. E mesmo com as “estacas fincadas”, a Casa continua a andar. Através de doações e contribuições de emendas parlamentares, os associados realizam cursos e oficinas. Eles já foram para Capelinha do Barreiro, Ponte Alta, Delta, Frutal, Sacramento, e muito mais.  Com a sensibilidade inerente a um artista, Fátima confessa ter recebido a ligação de uma aluna, que disse viver do que ela lhe ensinou. “É muito gratificante”, festeja emocionada.


Ingrid é a associada mais antiga

 

A andança não para. O grupo já enviou representantes para exposições e feiras importantes no território nacional. Em 1995, uma grande exposição de artesanato do Mercosul foi organizada em Araraquara (SP). A instituição representou o artesanato mineiro. Em 2000, nas comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil, algumas cidades de Minas Gerais foram escolhidas para participar de evento em Porto Seguro (BA). O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) foi um grande incentivador da entidade. Por apoio dele, Cidinha Freitas, que foi presidente por 15 anos e agora é segunda secretária, e Fátima viajaram com uma infinidade de peças nas malas. “O artesanato de Uberaba foi considerado o mais bonito”, comemora Cidinha Freitas. Há muitos anos, a Casa participa da Feira Nacional de Artesanato, em Belo Horizonte (MG). O Sebrae fez uma feira aqui para lançar o catálogo anual com os principais artesãos. “Dentre as três feiras realizadas em Minas Gerais, a equipe (do Sebrae) disse que Uberaba foi a cidade que mais vendeu”, narra. Outro motivo para comemoração foi o fato de Uberaba ter sido a primeira cidade do interior a receber a loja Brasil Original, também do Sebrae. Por 30 dias em 2017, ela expôs no Shopping Uberaba o artesanato regional. A Casa do Artesão estava lá, claro.  


Cidinha foi presidente durante 15 anos e hoje é segunda secretária

O trabalho, feito com mentes, mãos e corações, tem tanto valor que diversas peças já foram para o exterior. O problema é que na própria cidade ainda falta reconhecimento. “Muita gente daqui vem com parentes de fora e não conhece a Casa. Sinto que os turistas valorizam mais a gente do que os moradores”, reflete a artesã. Por falta de local é que não é, porque a associação tem diferentes moradias. Além da sede, há a unidade na Praça da Mogiana, resultado de grande empenho de Teresinha Cartafina e do então federal Narcio Rodrigues. É lá que se encontram o Centro de Tecelagem Dona Jovina Rita da Silva e muito espaço para a realização de cursos. Tem também todo o segundo andar do Mercado Municipal. “É bom porque funciona no sábado e domingo e é um ponto turístico conhecido”, enfatiza Ingrid.  

 

Toda obra é feita à mão


A pandemia paralisou a abertura das lojas, mas não interrompeu os artesãos dedicados, que aproveitaram o momento para fazer estoque. A prática está na essência dos uberabenses e, ao vislumbrar o futuro, o desejo é de mais centenas de anos de existência, bravura e comemorações.

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