Jornalista Isabel Minaré


Dores abdominais. Muitas, o tempo todo, cada vez mais intensas. Passa por consulta daqui, faz exame dali. Diversos diagnósticos, mas nenhum preciso. Era um vai e volta para o hospital... No mesmo dia em que recebia alta, já tinha que voltar para se internar de novo. O abdômen inchou tanto que parecia estar grávida de nove meses. Numa das internações, o médico estranhou o resultado de um ultrassom. Surgiram a suspeita (por parte dele) e o desespero (por parte dela). Conseguiram vaga para o Hospital Hélio Angotti. Depois de muitas investigações, veio a descoberta. Cláudia Pereira foi diagnosticada com linfoma folicular. 

Cláudia estava com trinta e seis anos, casada, com três filhos e era recém-chegada a Uberaba. Tinha acabado de voltar a trabalhar como corretora. A vida estava correndo nos trilhos. Mas, de repente, o trem descarrilhou e ficou de ponta-cabeça. Saiu do trabalho, o marido passou a cuidar plenamente das crianças, precisou de ajuda. Tinha o cabelão na cintura e, com dez dias de quimioterapia, o perdeu, assim como a sobrancelha, os outros pelos do corpo, os quilos, a energia, o viço. Quando ela estava debilitada, resolveu criar a Associação de Combate ao Câncer Vista Esta Causa (ACCVEC), da qual hoje é vice-presidente e o esposo, Jefferson Pereira, presidente. Mas como, numa situação dessa, ainda pensou no outro? “Acredito que a vida é mais entregar do que receber”, explica. E como recebeu muito – amor, companheirismo, atenção, cuidado – quis entregar também. 

O objetivo inicial foi confeccionar camisetas para vender. Todo o lucro seria destinado para tratamentos oncológicos. Nesse meio tempo, Cláudia precisou de uma medicação que não era disponibilizada pelo SUS devido ao alto custo. Foi preciso entrar com uma ação judicial. Durante a espera, as vendas começaram. O resultado saiu antes do esperado e ela conseguiu os medicamentos. Uma grande vitória que impulsionou não desistir do ideal.  O comércio deslanchou e mais pessoas puderam ser atendidas. “Hoje trabalhamos ajudando pacientes com transportes, alimentação especial, compras de medicamentos e realização de exames”, afirma. 

A Associação de Combate ao Câncer Vista Esta Causa foi criada há dois anos. Atualmente, conta com oito integrantes que vivem em Uberaba e Uberlândia (MG). O trabalho é feito on-line. O paciente envia ao grupo uma foto do laudo médico, que passa por verificação. Depois de confirmado, ele explica do que necessita naquele momento. 

Os membros correm atrás para atendê-lo. “Se ele precisa de um remédio por exemplo, entramos em contato com algum parceiro da indústria farmacêutica. Fazemos a aquisição e ele a recebe em casa”, destaca. Como a ONG é independente e trabalha de vários lugares, ela atende não só Uberaba, como toda a região. Isso amplia a capacidade e quantidade de casos. Mais pacientes significam maior necessidade de recursos. E eles são obtidos não só pela venda de camisetas mas também através de doações feitas por pessoas físicas e jurídicas. Qualquer um pode contribuir! E toda ajuda é bem-vinda! 

As doações contribuem com pacientes como a técnica de enfermagem Teresinha Afonso, que teve câncer de útero. Tinha 59 anos quando percebeu que precisava cuidar da saúde. Foi ao postinho e teve contato com uma funcionária. “Quando a médica do pronto-socorro me disse para procurar um médico com certa urgência, entendi que era grave”, confessa. Dali em diante, foram nove meses “doídos, chorosos e tristes”. Mesmo assim, nunca pensou em desistir. Agarrou-se em Deus e na família e lutou bravamente. Fez 26 sessões de radioterapia e precisava de quatro de braquiterapia, no entanto, as últimas eram feitas em Uberlândia, cidade a mais de 100 km de Uberaba. Além das dores por todo o corpo, o tempo inteiro, havia mais um problema. “Eu não cabia na ambulância da prefeitura pelo meu tamanho”. Por isso, precisava de outra forma de viajar. O que não podia, em hipótese alguma, era deixar de fazer o tratamento. Nessa hora, já com o contato da Cláudia em mãos, conversou com ela e pediu uma ajuda, uma luz. Cláudia se reuniu com os outros membros da entidade, que angariaram fundos e custearam a viagem de carro para a paciente. “Foi de grande valia”, comemora Teresinha. Não é só o transporte, é o abraço, o aconchego, a atenção, o respeito, a admiração. Esses já são valores importantes para se viver bem, porém, em momentos de enfermidade, são mais preciosos ainda. E o melhor: não têm preço! Vêm do coração! 

O contato entre Cláudia e Teresinha só aumentou. Tempos depois, por acaso, se conheceram pessoalmente. Ah, e haja braço pra tanto carinho! Duas guerreiras que hoje se empenham em ajudar quem precisa. “A gente vê o câncer como algo terminal. Nunca é interpretado como uma gripe, uma pedra na vesícula, um apendicite”, afirma Teresinha. E não pode ser assim. Quem recebe o diagnóstico não ganha uma certidão de óbito. É preciso lutar, dar as mãos e ter força e coragem. É justamente isso que a ACCVEC tem feito. “A associação significa amor. Nenhuma situação é difícil o bastante para que você não possa usar pra abençoar outras pessoas. Nós temos muito a contribuir e não se trata só de nós, mas de um todo. Nós somos um todo”, conclui Cláudia.


Cláudia e o marido, que é o presidente da entidade, durante tratamento oncológico


Cláudia veste a camiseta da associação


Teresinha buscou apoio em Deus e na família


Teresinha, ainda em tratamento, se manteve brilhante por dentro e por fora