Por Evacira Coraspe
Um artista que cria pelo movimento. Artista plástico, usa menos os pincéis e mais o corpo. Edson Fernandes faz uma fusão das artes plásticas com a dança de maneira harmoniosa. Utiliza mãos, dedos, cotovelos, cabeça. Na verdade, ele literalmente dança com as tintas que, não raro, possui apelo feminino e diz ter desenhos que são sínteses da mulher, representando suas irmãs e sua mãe.
“Vivemos uma realidade em que o machismo traz muita violência ao feminino. Isso, de certa forma, me levou a ser artista. Eu não queria me tornar aquele homem machista. A arte vem me dizer: Edson seja menos, abra os olhos e o coração. Não tenha medo de ser feminino. Eu sempre digo isso aos meus alunos”. Edson Fernandes nasceu na dança. Sua mãe nessa arte é a uberabense Beth Dorça.
“Com ela, eu conheci a dança e outras linguagens da arte”, diz o coreógrafo, bailarino, pintor, performático, professor. Enfim, um artista com grande experiência, inclusive com trabalhos e vivências por vários anos na Europa. Morou uns tempos na Alemanha, Suíça, França, Portugal. Antes morou em Ribeirão Preto e São Paulo. Está em Uberaba há cerca de 5 anos. Em seu espaço artístico, um misto de ateliê e galeria, com suas obras e fotografias, Edson Fernandes descreveu com leveza e muita consciência suas manifestações artísticas e em como se inspira nos movimentos da dança e cenas do teatro. “Eu danço desde os 12 anos de idade. Esta é minha habilidade principal” pontua, lembrando que, no início da fase de incorporação das artes, teve muita resistência. Era muito desvinculado. “A junção destas duas coisas na minha carreira resultou na performance. Se eu quiser falar de um tema, como por exemplo, a pandemia, falo pela dança-teatro. Hoje meu trabalho é muito conectado”, afirma o artista.
Lembrando sua carreira no exterior, Edson cita a sua exposição em Paris, organizada por um médico iraniano. As obras exibidas eram desenhos de seios, que tinham como objetivo acolher as mulheres vítimas de câncer de mama. Hoje o artista encabeça o Projeto Lupe, que realiza várias performances de mulheres se manifestando através do teatro, dança, fotografia e poesia.
A construção artística de Edson Fernandes vem com referências da infância. Até o azul presente em suas telas conversa com o azul das paredes de sua casa quando criança, que despertou nele o desejo de pintá-las com flores. E assim foi feito: “Escondido de minha mãe, eu escolhi um cantinho numa parede de cal, atrás de um móvel. Colhia e espremia flores do jardim e manchava as paredes, dando nova cor.”
Agora, como artista plástico, Edson chama esse projeto de azul adormecido. Hoje eu tenho uma paleta certa e vou misturando. Qual é a minha grande inquietação? Eu sou o tipo de artista que sempre quero dar chance aos jovens, porque senão nunca terão a primeira exposição. Então, além do Lupe, dou aulas para jovens, levo movimento com a arte cênica.”
Em Uberaba, ele diz que sua arte ainda causa certa estranheza. Percebe que existe um certo conservadorismo em relação às artes contemporâneas, não somente sobre as artes plásticas.
Seu estilo, observa, tem muita influência do estado de São Paulo, porque viveu e trabalhou lá na dança, com artes plásticas e coletivos. Por essas características, diz que sempre traz uma brasilidade para os variados trabalhos, na questão das cores. “A natureza brasileira é incontestável, é diferente”, e emenda que não se vê produzindo arte mineira, nem regionalista. “Eu ainda preciso me mastigar mais nesse sentido da arte mineira.”
Edson busca na dança o aquecimento necessário para criar. É a dança que o leva para um lugar muito calmo ou agitado. Embora, sempre tente ter um tom mais uniforme, não ir muito lá em cima. “Gosto da visceralidade. Na arte, eu não tenho nenhum pudor. Como diz o Jorge Bichuetti, eu entro de corpo e alma. Se tem que ser assim eu serei assim...”
No geral, as pessoas querem entender tudo imediatamente, antes de discutir, antes de abordar e ter um possível diálogo. “Quando eu falo do feminino nas exposições, causa uma inquietação pela existência de tantos corpos. É preciso entender que meu trabalho é muito subjetivo”, explica.
Tal explicação se baseia na grande quantidade de lugares onde a arte contemporânea não é vista como estranha. Porém, como reflexão. Edson afirma que já ouviu: “seu trabalho parece ser de um louco”. Expressão perigosa.
Mesmo assim, ele se diz satisfeito em estar novamente em sua terra natal e até em responder à pergunta recorrente: “Edson, você já morou em tantos lugares importantes para arte na Europa, o que você está fazendo em Uberaba?” Então, responde: “Primeiro, essa ideia desmerece a cidade porque Uberaba é uma cidade linda, rica, com todas as dificuldades que nós temos. E, após conhecer várias realidades, eu tenho um material, um conteúdo pra chegar em minha cidade e inserir esse modo de arte. O prazer de estar em Uberaba é ter aqui algumas pessoas querendo pensar arte. Aprendi tantas técnicas que quero usá-las sem me prender a elas, mas com intuição. Me recordo quando conheci os artistas Helio Siqueira e Paulo Miranda, nós fazíamos eventos no Conservatório Estadual de Música Renato Frateschi. Eles cantavam e eu ficava na dança e, hoje, continuamos conversando, vivendo da arte e sonhando projetos inovadores”. Finaliza Edson Fernandes. Quer saber mais sobre esse conteúdo? Acesse no Youtube Canal Evacira Coraspe e veja entrevista com o artista.
Quem passa próximo a Igreja da Medalha Milagrosa tem o privilégio de ver a Santa no alto da torre da Igreja. O que nem todos sabem é que ela foi esculpida pelas técnicas refinadas da ceramista uberabense Maria Helena Ciriani, que se encanta com a maior peça já produzida.
Ainda criança Ciriani se interessou pela cerâmica, quando gostava de brincar com barro, extraído de uma cerâmica ao lado de sua casa. Nessa brincadeira infantil ela se profissionalizou, lembrando que sua primeira mestra foi a dona Esmeralda Crema, que fazia santos e figuras humanas e com ela começou a modelar. Autora de variadas peças, com técnica comum, ou seja, apenas uma queima, Ciriani em sua maturidade, afirma ser especialista em arte sacra. Tem peças de sua autoria espalhadas por vários estados no Brasil inteiro e, inclusive, na França e Argentina. Os santos mais pedidos, por longo período, na verdade foi uma santa: Nossa Senhora da Conceição. Hoje, as pessoas querem mais Nossa Senhora da Aparecida e Nossa Senhora das Graças, a mesma Medalha Milagrosa. O São Francisco de Assis é muito querido e também está entre os mais solicitados.
“Desde menina tenho uma paixão por Nossa Senhora. Gosto de ver o rostinho dela, aquela coisa angelical. Gosto de fazer anjos. Sinto-me feliz e gratificada. É mesmo algo que vem de dentro de mim. Quando eu faço uma santa eu fico em torno dela, muito tempo. Venerando e, no fim, eu sinto uma emoção tão grande, que fico pensando: parece que não fui eu que fiz”.
Mesmo finalizada, a artista observa atentamente a obra, buscando detalhes para realçar mais a beleza peça. Durante todo processo de produção, Maria Helena Ciriani reza, pedindo que sua arte leve proteção e bênçãos para onde for instalada. Esse sentimento cristão vale para a cerâmica e para suas obras em papel. Ciriani garante que faz do seu trabalho uma diversão e na pandemia continuou trabalhando sem preocupação nenhuma, porque sua atividade sempre é mais isolada. Os pedidos chegam e a ceramista vai produzindo.
Foto: Paulo Lúcio