Ricardo Almeida
As Olimpíadas de Tóquio foram, literalmente, as mais acaloradas da história. Essa afirmativa vale tanto para os bons índices de medalha que o Brasil alcançou quanto para o clima de verão que os atletas enfrentaram no Japão durante a realização dos jogos ocorridos entre os dias 23 de julho e 8 de agosto de 2021. Graças ao poder tecnológico que o Japão possui, foi possível implementar medidas para amenizar o calor. Para combater a exaustão dos atletas, o maior evento esportivo do mundo contou com toneladas de gelo, tendas, ventiladores de névoa e até neve artificial para atletas e o pequeno número de expectadores presentes.
As maiores preocupações se deram sobre modalidades como triatlo, tênis, remo e maratona, pois o calor intenso e a alta umidade impactam sobremaneira a saúde dos atletas que praticam essas modalidades. Para prevenir problemas maiores, os organizadores da maratona, por exemplo, optaram por uma região com temperatura mais baixa, a fim de poupar os participantes da prova. O local escolhido foi a cidade de Sapporo, localizada na ilha de Hokkaido, ao norte do Japão. A região é conhecida por atrações como a cerveja, o esqui e o festival da neve, com suas enormes esculturas de gelo.
Embora essas medidas tenham sido tomadas, ainda foi possível observar o sofrimento de atletas com o verão rigoroso do Japão. Entre eles o brasileiro Daniel do Nascimento que por algum tempo liderou a maratona, mas passou mal, caiu duas vezes e teve que abandonar a prova. Outro atleta que sofreu com as altas temperaturas foi o tenista Daniil Medvedev, representante do Comitê Olímpico da Rússia, que durante um jogo foi perguntado pelo árbitro se tinha condições de continuar a partida. Na ocasião fazia 31°C com sensação térmica de 37°C.
Daniel do Nascimento passou mal
Segundo informações do site Climatempo, a temperatura média anual em Tóquio aumentou 2,86 °C desde 1900, três vezes mais rápido do que a média mundial. Os efeitos na saúde dos atletas também foram visíveis em esportes que, visualmente, parecem não sofrer com o calor. A arqueira russa Svetlana Gomboeva chegou a desmaiar após completar a fase de qualificação na prova de tiro com arco, por causa do calor intenso. O norueguês Kristian Blummenfelt, que depois de cruzar a linha de chegada como campeão do triatlo, desmaiou e comemorou a duras penas e, indisposto e entre vômitos, saiu da pista numa cadeira de rodas. Para resistir ao sol e à umidade do ar, os canoeiros espanhóis recorreram a toalhas geladas e coletes de gelo.
Isso mostra uma forte tendência de enfrentamentos climáticos nos próximos eventos esportivos que acontecerão no planeta. O calor excessivo do Japão tem sido alvo de preocupações do governo japonês. Em 2018, a onda de calor resultou em mais de 1.000 mortes no país e cenários como esse está se tornando comum por lá. Cientistas atribuem esse fenômeno à mudança climática do planeta que tem acelerado o aquecimento global. Estudos recentes concluíram que Tóquio está entre as 25 megacidades que, juntas, foram responsáveis por 52% dos gases de efeito estufa emitidos entre os anos de 2005 e 2016.
O calor intenso do Japão encontra explicação no fenômeno de bloqueio atmosférico, que impede a chegada de frentes frias ao formar uma redoma de calor, gerando elevação de temperatura. Além disso, a capital japonesa é vista como uma das várias selvas de pedra espalhadas pelo mundo. Tóquio tem pouca cobertura de vegetação e isso faz com que os raios solares penetrem no concreto, concentrando o calor na megacidade.
Tóquio e a selva de pedra e prédios
Ricardo Almeida
Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.