Ricardo Almeida
O Acordo de Paris é um tratado mundial para reduzir o aquecimento do planeta. Foi assinado por 195 países em 2015 e entrou em vigor, oficialmente, em 4 de novembro de 2016. A principal meta dele é limitar o aumento de temperatura do planeta a 1,5ºC ou abaixo de 2ºC, mas, conforme o último relatório da ONU, os países não estão no caminho certo para concretizar esse objetivo.
Além do controle da temperatura da Terra, outras orientações são pontuadas no tratado. Entre elas estão as recomendações para cooperação mútua entre os países participantes, com atenção especial os menos desenvolvidos, no intuito de reduzir a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos; estímulos a apoio financeiro e tecnológico por parte dos países mais ricos para ampliar as ações que levam ao cumprimento das metas; promoção de desenvolvimento tecnológico e transferência de tecnologia para adaptação às mudanças climáticas; maior integração entre sociedade civil, iniciativa privada, instituições financeiras, cidades e povos indígenas para ampliar e fortalecer ações de mitigação do aquecimento global.
Alguns pontos do acordo do clima recebem críticas de cientistas pela falta de objetividade. Segundo eles, o tratado não menciona a porcentagem necessária de corte de emissão de gases-estufa, não especifica metas para períodos mais longos e não determina quando as emissões precisam parar de subir, destacando apenas que o acordo será revisto a cada cinco anos.
Apesar disso, o Acordo de Paris é visto pela comunidade científica como um avanço importante e, embora algumas pessoas recusam-se a acreditar nos efeitos do aquecimento global, especialistas alertam para as possíveis consequências do fenômeno: temperaturas impróprias para a vida humana, alta do nível dos oceanos a ponto de provocar inundações de cidades inteiras e catástrofes naturais recorrentes.
Segundo a ONU, sem as mudanças necessárias, o aumento de temperatura pode chegar a 3°C até o ano de 2100. Reforça também que ainda é possível alcançar as metas, mas que para isso é preciso que os países implementem políticas adicionais para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
Um estudo da Suíça aponta que no ritmo atual de emissões de gases poluentes, o mundo caminha para um aumento de 4ºC na temperatura. O levantamento revelou também que o mercado não tem correspondido às expectativas dos investidores, que empreendem recursos (nas áreas ambiental, social e de governança) para minimizar o problema.
A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, ocorrido em 4 de novembro de 2020, diminuiu ainda mais as expectativas do mundo. Entretanto, a situação ganhou mais fôlego com o resultado das eleições presidenciais norte-americanas, que conferiu vitória a Joe Biden e Kamala Harris. Como promessa de campanha, Biden afirmou que o combate às mudanças climáticas será uma de suas prioridades no governo. O democrata também afirmou que vai reincorporar os Estados Unidos ao Acordo de Paris no primeiro dia do seu mandato.
No Brasil, de acordo com o Observatório do Clima, que consiste em uma rede de entidades da sociedade civil brasileira formada para discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro, mais especificamente o aquecimento global, as emissões dos gases de efeito estufa aumentaram 9,6% em 2019, em comparação com 2018. Isso faz com o país assuma a posição de sexto lugar entre os maiores emissores do mundo. Os principais fatores que motivam esse quadro envolvem a alta do desmatamento na Amazônia; a emissão de 2.17 bilhões de toneladas de CO² em 2019; o uso da terra (incluindo o desmatamento) e a agropecuária que somaram 72% das emissões do país e; o setor de energia que responde por 19% do total.
A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) fez a previsão de que o Brasil reduziria as emissões entre 36,8% a 38,9% até o final de 2020. No entanto, ocorreu que o país sequer entregou um plano de implementação das contribuições pretendidas, também conhecidas como NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que são as metas propostas pelos países participantes do Acordo de Paris e mostram a intenção e o compromisso de cada nação com a mudança climática.
Em meio às altas temperaturas diplomáticas, resta-nos acompanhar os próximos capítulos do Acordo de Paris para sabermos se o combinado vai se resumir apenas a uma canetada num pedaço de papel.
Ricardo Almeida
Doutor em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Mestre em Inovação Tecnológica. Especialista em Gestão de Pessoas e Negociação Coletiva. Atua nas áreas de Desenvolvimento Humano e Educação Ambiental.
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